Trabalho para Mesa Redonda
MR 52: O exílio na antropologia contemporânea: interrogando uma presença nebulosa
Reflexões sobre experiências e trajetórias de exilados externos e internos durante a ditadura militar no Brasil (1964/1985)
Pretendo partir de reflexões autobiográficas como filho de exilados universitários durante dois
períodos, entre 1964 e 1967 e posteriormente entre 1969 e 1979. O caso permite diferenciar o primeiro
período, uma ida para o exterior de meu pai, aceitando o convite de professor visitante em universidade
francesa, do segundo período, a situação mais duradoura representada pelas punições de aposentadoria
compulsória em universidade pública (de pai e mãe) e demissão em centro de pesquisa com estatuto de fundação
privada com financiamento governamental. Os primeiros anos se segu iram a situações de inquérito em 2
processos de IPM (FNFi/UB e ISEB) assim como prisão de dois dias na véspera de viagem no ano de 1964. Já o
segundo período, desencadeado pelo AI-5, vinha interromper bruscamente projetos iniciados após dois anos de
retorno ao país, e se configurava uma situação de exílio mais duradouro por impossibilidades de exercício
profissional no Brasil. A ida para o exterior de pai e mãe afetaram de forma diferente a experiência dos 3
filhos segundo o ciclo de vida diverso de cada um. No meu caso propiciou a frequência ao ciclo básico dos
estudos de graduação em universidade francesa (anos letivos 1966/67 e 1967/68) e o convívio com exilados do
período inicial da ditadura. Já no período que se seguiu a 1969 eu me encontrava terminando a graduação e
iniciando estudos de pós-gradua&cc edil;ão no Brasil, e no final da década dos 70 já estava nos anos
iniciais da carreira de docente. Enquanto isso, ex-colegas do ensino médio ou universitário passavam por
situações (que poderiam ter sido as minhas) de diferentes graus de repressão (morte, prisão, torturas,
clandestinidade, exílio temporário, processos na justiça militar, banimento). Em pesquisas de campo
etnográficas em convívio com trabalhadores industriais e rurais pude conhecer situações de clandestinidade
temporária e de exílio interno de ativistas, perseguidos nos anos pós-golpe de 1964. O objetivo da
apresentação seria assim refletir sobre gradações e diferenciações das situações e das experiências do
exílio segundo as trajetórias possíveis de indivíduos em diferentes momentos do ciclo de vida e com
diferentes capitais socioeconômicos e escolares.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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