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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 052: Estudos de Cultura Material: contribuições da Antropologia e da Arqueologia em um mundo mais-que-humano
Dos espíritos aos objetos: reflexões sobre o Museu Nacional do Espiritismo
A antropóloga holandesa Birgit Meyer (2018) apontou para uma forma característica de compreensão hegemônica sobre a religiosidade experienciada na Europa, majoritariamente protestante. Ela coloca que essa visão classificaria as religiões em dois campos: o primeiro é imaterial, abstrato e espiritual; contemplando assim as religiões maiores, como é o caso das denominações protestantes. Já o segundo seria material, concreto e corporal, denominando às religiões tidas como menores, como o Catolicismo, paganismo, e as religiões e crenças advindas do restante do mundo. Nessa perspectiva, havemos de pensar o caso do Espiritismo: uma doutrina nascida na França do século XIX, de berço positivista, que migra ao Brasil no mesmo século, e no seguinte, se mistura às demais religiões aqui estabelecidas; se tornando o que Stoll (2003) chama de Espiritismo à brasileira, ou ainda o que Lewgoy (2012) coloca como um processo de brasilianização”. Todavia, apesar de lida enquanto uma religião dos espíritos, o Espiritismo, como apontou Aubrée e Laplantine (2009), seria essencialmente material. Isso pode ser observado em diversas práticas elaboradas desde Allan Kardec, fundador da doutrina, que consistem em exercícios que produzem provas materiais da existência desses seres, como livros, cartas, pinturas, móveis em movimento, luvas de cera, fotografia, entre outros. Diferentes centros espíritas compreendem essas materializações a sua forma, na Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE), localizada em Curitiba, isso é expresso não somente em toda sua estrutura, mas também na livraria e no Museu Nacional do Espiritismo (MUNESPI), criado e mantido pela instituição desde 1965. Este trabalho é focado no museu e nessa relação entre o Espiritismo e a materialidade que podemos observar lá. Com isso, procuro compreender como essa materialização é pensada e organizada no espaço, como esta se relaciona com a casa espírita e com a doutrina de forma geral. E como os objetos mediam os vínculos entre os sujeitos vivos e desencarnados (mortos/espíritos), assim como entre os frequentadores e trabalhadores da casa e a religião ali experienciada. Dessa forma, compreender as diferentes formas como esses objetos capturam os simbolismos, discursos e narrativas espíritas que os produzem e que por eles são produzidos.