Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 069: Maternidades Violadas: desigualdades, violências e demandas por justiça e direitos
Cor visível corpo desumanizado: escrevivências de mulheres negras e racializadas com assistência médica
Presente minha pesquisa de mestrado (Queiroz, 2023) na qual me dediquei a escrever sobre uma experiência
radicalmente próxima e atravessada pelo luto. Nesta pesquisa vivencio o campo na própria pele e com mulheres
negras e racializadas do Distrito do Purupuru, onde cresci e vivo. Não se trata apenas de observar e
descrever, mas "escreviver" as experiências das minhas semelhantes com a assistência médica no interior do
Amazonas. O que norteia a minha escrita é o atravessamento da pergunta o que fizeram com o corpo desta
mulher, como expressão para descrever a intervenção médica sobre o corpo de uma irmã, pergunta essa feita
por uma médica plantonista. São escrevivências de Cristina, Pilla e Cassiane, que por meio de conversas de
varanda entrelaçam as suas experiências referentes gestação, parto e puerpério, posteriormente de tia Julia
em tratamento oncológico na Fundação CECON, em Manaus, e em seguida a escrevivência de Gabriele, que tem sua
vida ceifada em 2019, após vários procedimentos durante o trabalho de parto. Nossas escrevivências
compartilham o engasgo" (Evaristo, 2021) de ter nossos corpos desumanizados e colocados no lugar de não dor
e não afeto (hooks, 2020). Faço uma bricolagem de operadores teóricos e metodológicos: a escrevivência
(Evaristo, 2005; 2020); a autoetnografia (Anderson e Glass-Coffin, 2013; Ellis et al, 2010; Adams et al.,
2017; Versiani, 2005); a autoetnografia evocativa (Bochner e Ellis, 2016); e, por fim, a percepção de ser
afetada/atravessada por minhas vulnerabilidades enquanto irmã/pesquisadora/antropóloga: a antropologia de
coração partido (Behar, 1996), para descrever e escreviver como essas mulheres vivenciam a assistência
médica. A escrevivência e a etnografia, neste caso, representa uma ferramenta para penetrar naquele
mistério, mas também [para] nos protege[r], nos dá[dar] um distanciamento, nos ajuda[r] a sobreviver.
(Anzaldúa, 2000, p.232). Em minhas bases argumentativas, sigo os aportes teóricos do conhecimento situado e
dos saberes localizados (Haraway, 1995); da interseccionalidade (Collins, 2022); sobre mulheres negras e
racializadas (hooks, 1981; Gonzales; Vergés, 2017); e da escrita acadêmica feminista negra (hooks, 2017;
2020; Kilomba, 2010; 2016). Sinto-me acolhida por Gloria Anzaldúa, a respeito dessa forma de escrita de
mulheres do Terceiro Mundo, que me propõe a fazer uma antropologia com as mulheres amazônidas, a mergulhar
de cabeça em nossas vivências a partir do entrelaçamento das escrevivências e histórias de vidas únicas,
porém remetendo a problemática social, o racismo que atinge os corpos de mulheres negras e racializadas.