Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 102: Transições democráticas e controle social: repensando marcações temporais
Manejos da água e da terra em transformação nos arquivos da Diocese de Juazeiro-BA e da Sudene
Este trabalho propõe o exame do manejo das águas e de terras nos arquivos/acervos da Diocese de
Juazeiro-BA e da Sudene, como elementos que lançam luz para relações de forças empregadas no enfrentamento,
nas proposições e nas estratégias de desenvolvimento do Vale do Submédio São Francisco disparados após e em
razão da construção da barragem de Sobradinho-BA (1979). Trata-se da temática da minha pesquisa de mestrado
em curso; o seu argumento central, que venho desenhando, é que essas noções não foram postas ou mesmo
convocadas para os mesmos problemas de manejo no semiárido e, portanto, não foram acionadas para os mesmos
propósitos e efeitos nos arquivos. De um lado tem-se o acervo doado pela Sudene, que chamarei apenas de
acervo Sudene, constituído por materiais e documentos doados em 2021 e em 2023, sendo boa parte publicações
técnicas financiadas pela Superintendência para o delineamento das chamadas áreas de interesse, e seus
variações, e para a prospecção de estratégias de armazenamento e distribuição de água. Do outro o arquivo da
Diocese de Juazeiro que compreende o Acervo Dom José Rodrigues e o Arquivo da Comissão Pastoral da Terra
(CPT). Ambos correspondiam à biblioteca diocesana de Juazeiro criada em 19 de março de 1975 pelo então bispo
Dom José Rodrigues, inspirada nos Projetos de Educação Popular de Paulo Freire, para o enfrentamento dos
efeitos da barragem de Sobradinho. Pretendo defender que o manejar águas e terras apresenta e está posto
nesses arquivos em escalas e condições enunciativas diferentes de (re)composição, proposição e de ação numa
região em ebulição durante as décadas de 1970, 80 e 90. Da construção da barragem de Sobradinho produziu-se
o deslocamento de mais de 70.000 pessoas, ao passo em que possibilitou, direta e indiretamente, a extensão
de 93.900ha de terras irrigadas do polo Petrolina-PE e Juazeiro-BA. É com isso em mente que opero a abertura
dos arquivos/acervos, pelo que anima o esforço de considerar nos escritos encaixotados e, ora, expelidos,
condições em que forças distintas puderam enunciar - distintamente e conflitante - processos de manejo,
produção e cercamento da terra e da água por convocações e arranjos com discursos geográfico, antropológico,
técnico e dos agentes pastorais para compor a razão e a contra-razão desenvolvimentista. Por fim, este
trabalho está situado na fronteira entre a antropologia de/com arquivos e documentos e a do desenvolvimento,
além de estar imbuído na relação entre a antropologia e a história.