Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 062: Fronteiras e fabulações: antropologias especulativas e experimentos etnográficos
Refúgios transfronteiriços: práticas, narrativas e imaginação política
Partindo de uma noção de refúgio como lugar figurativo e não como categoria jurídica, nesta apresentação
procuro explorar, de maneira situada, uma narrativa liminal que tem como objetivo a junção da própria
vivência de ser antropóloga, migrante, lésbica, inserida no campo dos estudos migratórios, da saúde, dos
cuidados e do gênero e sexualidade. Tomando como ponto de partida a minha própria experiência
transfronteiriça busco indagar nas linhas difusas entre o lugar de origem e a ideia de retorno em contextos
de incerteza. Procuro problematizar, simultaneamente, as vivências espaço-temporais, a pesquisa de campo e o
contexto geopolítico como um conjunto de elementos que se tornam corpo. Neste enquadramento de
ambivalências, espero indagar nas formas em que os contextos nos atravessam e nas diversas maneiras em que
atravessamos esses contextos. Para isso, proponho a
noção de refúgios transfronteiriços como lugares de preservação existencial no meio de conjunturas
geopolíticas que atingem permanentemente nossas subjetividades e imaginação política. Não se trata de
lugares físicos, nem de categorias jurídicas, mas de espaços, malhas, redes que constituem o tecido social
que nos compõem e se tornam cruciais para configurar novos mundos que fazem habitável o porvir (Haraway,
2019). Me interessa, então, analisar, a partir de uma perspectiva situada, os modos de vida dissidentes do
sistema sexo-gênero e das delimitaçãoes nacionais em vistas de producir novas novas gramáticas que permitam
imaginar" uma outra organização social das formas de vida (Preciado, 2020, p. 41), ou seja, uma linguagem de
ficção política transfronteiriça.