Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 007: Antropologia Biológica e interfaces biologia e cultura: história, pesquisas atuais e perspectivas futuras
Devir-fungo: experimentações etnográficas com fermentações
O que podemos aprender com o fazer mundos dos fungos e das assembleias constituídas por eles junto aos humanos e às miríades de outros seres? É possível experimentar uma antropologia micelial? Será essa antropologia um caminho apoiado nos traçados enquanto hifas que se agitam e transmitem mensagens inevitáveis entre espécies animais, vegetais e fúngicas? Afinal, esses aglomerados de estruturas em constante processo de ramificar-se sabem quando mudar as rotas, se necessário, perfuram rochas e assim criam paisagens impensadas. Porque as margens, indomáveis, como as descreve Anna Tsing, estão sempre em movimento. São fluxos reencontrados entre linhas de existência.
Os questionamentos levantados por essa pesquisa/ensaio/experimento visam sinalizar a insurreição fúngica em curso e destacar processos dentro dos quais substâncias e palavras ainda podem transformar, fermentar. A partir da descrição de exercícios com fungos e de um apanhado sobre estudos etnomicológicos e processos fermentativos, sobretudo na amazônia, visa-se especular uma virada fúngica na antropologia.
Parto de algumas das muitas etnografias de povos do Rio Negro - essa gente de transformação -, para esboçar os caminhos de investigações em torno da fermentação multiespécies dos caxiris. Confluências chegam então para uma experimentação etnográfica da feitura de um caxiri de cará roxo junto a indígenas do povo Tukano e ao testemunho de um encontro entre artistas e cientistas em uma residência a bordo de um barco laboratório que deslizou por paisagens amazônicas durante a expedição fungicosmology.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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