ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 035: Cidades e citadinidades: questões de Antropologia Urbana
Vende-se o eu e a cidade: a plasticidade da paisagens e dos rituais de consumo em Montes Claros/MG
Este estudo se dedicou a refletir o encadeamento de práticas e rituais de consumo contíguos à regimes de ocupação e deflagração de práticas socioespaciais em uma região que, nos últimos anos, despontou como um esteio boêmio de consumo e comércio, sobretudo noturno, na cidade média de Montes Claros/MG. A região compreende um emaranhado de vias dispostas sob os bairros Jardim São Luiz, Melo e Funcionários que tiveram seus usos flexibilizados ao comércio por um adendo legislativo municipal em 2022 para ocupação do solo. Nesse ínterim, o intento deste esforço de pesquisa se deu em conjunto tríplice de descrição e análise: inicialmente, uma leitura ciosa das vias e espacialidades de comercialização ante aos processos de urbanização e ocupação do solo urbano; a seguir, a tipificação de práticas e rituais de consumo diante da oferta de signos e totens de lazer e entretenimento; e, por fim, o enquadramento socioespacial da ocupação e do cotidiano da área, à guisa de tecer modos de ver, perceber e consumir o espaço e a imagem da cidade. Por meio de itinerários etnográficos e observação da constituição plástica e imagética dos espaços, procurou-se examinar a composição da paisagem urbana e o influxo social de consumidores. Ora, o espaço é uma poética das relações, enquanto as relações em toda sorte de arranjos constituem as métricas precisas para que esta poética se estabeleça. Aqui, desprende-se o conceito de paisagem urbana. Isto é, a forma visível, sensível e tátil da cidade. Da compreensão dos sentidos, a paisagem urbana é a materialização eloquente da herança histórica de sua produção assimétrica e disputada. Nas vias que constituem o corpus deste percurso etnográfico, os sentidos são capturados pela unidade estética da plástica arquitetônica de letreiros, ambiências e adornos funcionais que potencializa - sob os dizeres publicitários - experiências de marca, enquanto são simultaneamente convite e vitrine de uma vitalidade urbana exígua, afeita nas luzes, musicalidade, boemia e consumo. Ruas mais povoadas, calçadas beligerantemente ocupadas. A cidade, após seu intenso fluxo de expediente comercial, ativa um novo turno em que seu funcionamento é anabolizado e estimulado. Enquanto rotas, mimetismos socioculturais e estéticas ritualísticas de consumo se pulverizam no ócio montes-clarense, noções e imagens bidimensionais de cidade e, porque não, de uma proto-citadinidade se efetivam. Isto é, é viva a cidade e é vivo o habitante que consome e celebra apenas nesse festim de uma urbanidade estetizada e coisificada no instantâneo do consumo ou do que se materializa entre fachadas e letreiros ou se apregoa como sociabilidade ritual, no qual os sujeitos buscam no consumo o amuleto para anestesiar a visão factual da cidade e de suas outras paisagens de arrocho.