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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 096: Sexualidade, gênero, raça e territorialidades: articulações, pertencimentos e direitos em disputa
"Precisamos normalizar mulheres cristãs imperfeitas": sensibilidades feministas e pós-feministas no discurso de gênero de uma evangélica influenciadora digital
Alana Carla é influenciadora digital no Instagram. Seu perfil atrai mulheres cristãs, sobretudo evangélicas, que se interessam por conteúdos sobre mulheres, teologia e feminilidade bíblica. Advogada, teóloga e doutoranda em Ciências das Religiões, a influenciadora produz reflexões dissonantes no meio cristão conservador. Em um reels, publicado em janeiro de 2024, ela convida suas seguidoras a normalizarem a imperfeição. Na legenda, questiona: Quem foi que exigiu perfeição de nós? A palavra de Deus ou simples normas culturais?. A perfeição a que se refere vai desde a (auto)cobrança estética ao alto desempenho no cuidado doméstico e familiar, tópicos abordados no vídeo por meio de recursos sonoros e visuais ambivalentes. Enquanto passam pela tela frames de Alana em momentos de lazer e realizando tarefas cotidianas - como a organização do lar e o estudo bíblico -, ouvimos sua narração de que tudo bem às mulheres cristãs não serem perfeitas, já que nem as mulheres da bíblia o foram. Em seu argumento, Maria, mãe de Jesus, é citada como exemplo de uma mulher imperfeita, pois teria esquecido o Jesus de 12 anos no templo de Jerusalém, demorando um dia para perceber sua ausência. Nesta comunicação, buscaremos aproximar a narrativa da feminilidade bíblica da imperfeição às sensibilidades feministas e pós-feministas e apresentaremos um contraponto etnográfico à pesquisa realizada por Nina Rosas (2023) sobre os ensinamentos de Ana Paula Valadão. O discurso da pastora e celebridade religiosa, analisado por Rosas, orienta mulheres evangélicas sob um dispositivo da perfeição, em que um corpo moldado e uma personalidade domada evidenciam as sensibilidades pós-feministas conforme explicitadas por Rosalind Gill (2007). O pós-feminismo enquanto um processo político e social, pode ser compreendido como um emaranhado de pautas feministas e antifeministas. Nessa sensibilidade pós-feminista contemporânea, a feminilidade é percebida como um propriedade corporal capaz de ser manejada por uma constante autovigilância e autodisciplina. A performatividade de gênero da mulher virtuosa imperfeita, encontrada em nosso trabalho de campo, nos inspira a pensar como reverberações feministas e pós-feministas estão implicadas no discurso de uma nova geração de evangélicas conservadoras e na constituição de outras sensibilidades pós-feministas no contexto evangélico brasileiro.