ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Trabalho para Mesa Redonda
MR 69: Socialidades animais nas ciências humanas e sociais: desafios multidisciplinares e diálogos multiespécies
Menina veneno, o mundo é pequeno demais
Embora o DDT tenha sido sintetizado em meados do XIX, alcançará estatuto de herói durante a Segunda Guerra Mundial, tendo uma série de usos. Após a Guerra, colonizou o imaginário dos agricultores: bastava abrir um frasco para que os soldados-mosca tombassem vencidos; no Brasil, a primavera silenciosa sobre a qual Rachel Carson alertou pode ser experimentada hoje por qualquer um que entre em uma monocultura de soja, onde se ouve apenas vento. Minha pesquisa trata da questão de um envenenamento múltiplo observado nas monoculturas e das estratégias que alguns insetos desenvolveram na guerra que se trava contra eles. Destacarei duas lagartas que aparecem nas plantações de soja no Paraná, a Falsa-Medideira e a Broca das Axilas. O que elas têm de especial é que são resistentes à tecnologia BT, sementes desenvolvidas pelo melhoramento genético da biotecnologia. Essa soja tem seu código genético modificado e recebe genes da bactéria BT, o Bacillus thuringiensis que se encontra no solo. Tal bactéria produz proteínas tóxicas específicas para algumas pragas que atacam as lavouras da soja, como é o caso da lagarta da soja. Há diversas sementes BT no Brasil, constantemente atualizadas. A introdução dos genes BT na planta leva ela a expressar essas proteínas inseticidas. Em linguagem popular, podemos dizer que essas plantas passam a exsudar inseticida. Então, quem são a Lagarta Falsa-Medideira e a Broca das Axilas, essas duas espécies resistentes às sementes BT? São animais que conseguiram criar um corpo de veneno e viver no meio deste. Será que um dia tornar-nos-emos resistentes? Por ora na liderança, as lagartas são terroristas, ou possíveis terroristas, nessas cultura da soja. São organismos em um corpo de veneno resistente ao veneno para a sobrevivência em um mundo envenenado outrora foi seu, mariposas nativas das Américas. Essa pesquisa tem sido feita por meio de entrevistas com médicos do MPT, professores universitários, funcionários do MAPA, ativistas agroecológicos e engenheiros agrícolas.