ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 054: Etnografia da e na cidade: o viver no contexto urbano em suas formas sensíveis
Mari dihtero, mari catiro: nascer, viver e conviver na cidade mais indígena do Rio Negro/SGC-AM Brasil
Este resumo apresenta a visão de um homem indígena, nascido na cidade de São Gabriel da Cachoeira, filho de um Kótiria e de uma Tariana, sobre a urbanização da cidade de São Gabriel da Cachoeira/AM, localizada entre as Terras Indígenas do Rio Negro, no extremo noroeste do Brasil, conhecida como Cabeça do Cachorro”. O território onde viria a ser a cidade, já era habitada por povos indígenas, que segundo Silva (1977) eram os Barés, Mepurí e Jurí. Desde então a mobilidade dos parentes indígenas para a cidade só tem aumentado, mas a conexão com a comunidade/aldeia não se perde totalmente. Apesar da chegada na cidade, no início, fazer com que nos distanciassemos um pouco das nossas culturas, devido ao impacto de estar em uma cidade, onde o coletivo ficou em segundo plano, dentro das familias não se perdeu a partilha da cultura, da vivência na e em comunidade. No momento que se vivenciou o território com os quiti/narrativas existentes no espaço da cidade, onde os lagos, cachoeiras, ilhas e pedras tem uma ligação cosmológica com os parentes na cidade, houve o fortalecimento da identidade indigena no contexto da cidade. Neste processo o Movimento Indígena e os Indígenas em Movimento tiveram muita importância, pois os parentes indígenas começaram a se auto-organizar em associações para assim poderem vivenciar a coletividade, a rede de parentesco e territorializar o espaço urbano. Neste processo também é importante mencionar a oficialização (Lei n° 145, 11/12/2002 e o Projeto de Lei nº 001/2017) de quatro línguas indígenas: Nheengatú, Tukano, Baniwa e o Yanomami. E mais recentemente o município foi decretado pelo Estado do Amazonas como a Capital Estadual dos Povos Indígenas (Lei nº 5.796, 12/01/2022). Apesar das leis existentes a nível macrossocial (Município), os agentes políticos ainda precisam atender os parentes indígenas na cidade com mais ações de políticas públicas de fortalecimento da identidade indígena na cidade, pois estar na cidade e viver na cidade é resistir e territorializar o espaço geográfico delimitado pelo pensamento colonizador. A população da cidade é formada praticamente por 23 povos indígenas oriundos de várias comunidades que compõem o Município, onde alguns parentes, falam com certo orgulho Nós fundamos uma grande cidade aqui”. E neste aqui, há a presença de artesãos, organizados em associações e ainda praticam a produção na roça, a agricultura tradicional, procuram por benzimentos para poder ter a cura de determinada doença, existem quiti/narrativas, como por exemplo da Ilha Adana. Mantém os cantos, danças, bebidas e comidas tradicionais. Diante deste contexto, é muito importante salientar o direito à cidade a partir da compreensão do território urbano conhecendo a sua formação histórica, geográfica, política e antropológica.