Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 077: Novas perspectivas antropológicas a partir de África: caminhos para reconfigurações autônomas no contexto sul-sul
O lugar dos assimilados em Moçambique: as relações entre política e trabalho acadêmico.
Durante a luta armada anticolonial, a Frelimo formulou a sua concepção sobre com quais segmentos sociais
poderia contar para concretizar o seu projecto de transformação social, de libertação e de criação do homem
novo. A narrativa da aliança operário-camponesa prevalecente teoria marxista facilitava a identificação de
aliados e inimigos naturais: de uma lado os operários - numericamente marginais na sociedade colonial - e de
outro os camponeses, que formavam a esmagadora maioria. Entretanto essa interpretação se mostrou demasida
simplista diante uma realidade social historicamente complexa. A sociedade moçambicana colonial, sobretudo
nas cidades, contava com uma imensa gama de segmentos raciais, sociais e culturais. Os brancos, dominantes,
mas minoria, não escondiam as clivagens de classe que separavam os capitalistas dos operários, a seguir
havia os indianos islamitas, hindus que controlavam o comércio miúdo e goeses católicos; uma pequena
comunidade chinesa; um percentual de mestiços e por fim a imensa maioria constituida por negros, serviçais
domésticos e empregados braçais. Uma parcela dos negros e a maioria dos mestiços eram pequenos funcionários
subalternos da administração e do comércio e foram, a partir de 1917, submetidos à condição jurídica de
assimilados. Desde então esta categoria e os debates em torno de sua existência - passou a estar onipresente
na vida social do país, persistindo até hoje. Aos olhos da Frelimo o termo passou a ter um significado
pejorativo e os assimilados, enquanto categoria, eram vistos como colaboradores do colonialismo, no entanto
o movimento de libertação contava, em suas fileiras e órgãos dirigentes, com pessoas cuja trajetória pessoal
e familiar esteve ligada aos assimilados e suas organizações sócio-políticas do passado, como o Grêmio
Africano de Lourenço Marques. Após a independência, foram surgindo estudos que mostravam o quanto os membros
dessa categoria social estavam envolvidos na denúncia das práticas coloniais violentas e na luta pela defesa
dos interesses da imensa maioria da população submetida à categoria de indígena e em a emergência de uma
consciência de moçambicanidade. A comunicação pretende traçar o percurso desta camada social e perceber se a
Frelimo mudou a sua narrativa face às evidências demonstradas por tais estudos acadêmicos.
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