ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 077: Novas perspectivas antropológicas a partir de África: caminhos para reconfigurações autônomas no contexto sul-sul
O lugar dos assimilados em Moçambique: as relações entre política e trabalho acadêmico.
Durante a luta armada anticolonial, a Frelimo formulou a sua concepção sobre com quais segmentos sociais poderia contar para concretizar o seu projecto de transformação social, de libertação e de criação do homem novo”. A narrativa da aliança operário-camponesa prevalecente teoria marxista facilitava a identificação de aliados e inimigos naturais: de uma lado os operários - numericamente marginais na sociedade colonial - e de outro os camponeses, que formavam a esmagadora maioria. Entretanto essa interpretação se mostrou demasida simplista diante uma realidade social historicamente complexa. A sociedade moçambicana colonial, sobretudo nas cidades, contava com uma imensa gama de segmentos raciais, sociais e culturais. Os brancos, dominantes, mas minoria, não escondiam as clivagens de classe que separavam os capitalistas dos operários, a seguir havia os indianos islamitas, hindus que controlavam o comércio miúdo e goeses católicos; uma pequena comunidade chinesa; um percentual de mestiços e por fim a imensa maioria constituida por negros, serviçais domésticos e empregados braçais. Uma parcela dos negros e a maioria dos mestiços eram pequenos funcionários subalternos da administração e do comércio e foram, a partir de 1917, submetidos à condição jurídica de assimilados. Desde então esta categoria e os debates em torno de sua existência - passou a estar onipresente na vida social do país, persistindo até hoje. Aos olhos da Frelimo o termo passou a ter um significado pejorativo e os assimilados, enquanto categoria, eram vistos como colaboradores do colonialismo, no entanto o movimento de libertação contava, em suas fileiras e órgãos dirigentes, com pessoas cuja trajetória pessoal e familiar esteve ligada aos assimilados e suas organizações sócio-políticas do passado, como o Grêmio Africano de Lourenço Marques. Após a independência, foram surgindo estudos que mostravam o quanto os membros dessa categoria social estavam envolvidos na denúncia das práticas coloniais violentas e na luta pela defesa dos interesses da imensa maioria da população submetida à categoria de indígena e em a emergência de uma consciência de moçambicanidade. A comunicação pretende traçar o percurso desta camada social e perceber se a Frelimo mudou a sua narrativa face às evidências demonstradas por tais estudos acadêmicos.