Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 101: Trabalhos etnográficos com população em situação de rua: modos de existir/resistir, políticas, governos e agências
Uma etnografia de uma Escola Depósito: A (des)construção de sujeito de direitos e de infâncias
descartáveis.
Nos contextos de cuidados dos direitos das crianças, diversos discursos, moralidades, controles,
legitimidades, instituições estatais articulam-se em uma rede de apoio e de assistências. Através desta
etnografia trato sobre diferentes formas de tutelas produzidas por uma unidade escolar em relação às
crianças em território favelizado na cidade do Rio de Janeiro. A escola é considerada um depósito de
indesejáveis pelos atores que a compõem. A minha análise visa demonstrar como há formas de tutelas e governo
direcionadas a produção dessas crianças como descartáveis por intermédio de instrumentos que seriam para
garantir seus direitos. A rede escolar é hierarquizada, neste sentido, divide e define os estudantes e
funcionários os direcionando para escolas específicas. O contexto da cidade carioca está entrelaçado em
minhas análises, ao qual o cotidiano de guerra reverbera tanto na ação de extermínio direto, quanto nas
ações de governo em um extermínio das dignidades cotidianas e subjetivas. Este trabalho analisa como a
produção desta escola depósito implica na distribuição dos corpos e subjetividades considerados como
problemas diante dos marcadores sociais da diferença, atuando em processos de sujeição dessas infâncias.
Minhas análises verificam que as múltiplas violências e humilhações desaguam na produção de corpos
descartáveis. Da mesma maneira, analiso como os processos de sujeição dos estudantes e funcionários da
escola estão relacionados com a utilização e instrumentalização de laudos médicos e psiquiátricos. Os laudos
são mecanismos produzidos para a promoção de direitos e resguardos, quando atrelados a certas escolas estes
possibilitam rearranjos para a produção de sujeitos de direitos. Nesta etnografia viso demonstrar que os
laudos são instrumentalizados para o funcionamento escolar, veiculando modos de contornar os conflitos,
assim como formas de deslegetimações e antagonismos. No campo são operadas as categorias, ao mesmo tempo
médicas, sociais e pedagógicas: pessoas laudadas, pessoas incluídas e pessoas sem laudo incluídas por atos
diagnósticos. Deste modo, os laudos são operados para a suspensão de direitos, sendo um instrumento de
descartar corpos e subjetividades indesejáveis. Nesse cotidiano escolar, observei a produção de uma
necropolítica para aqueles que seriam considerados moralmente inferiores, sem necessidade de espaços dignos,
suspendendo seus direitos, os desumanizando, produzindo infâncias descartáveis. A cadeia de autoridades
delegadas que circulam pela unidade está relacionada com a gestão de moralidades, precariedades e as
suspensões de direitos, produzindo um cotidiano de sofrimento e adoecimento de todos que ali trabalham e
estudam.
Palavras-chave: escola depósito, laudos, necropolítica, sujeitos de direitos.