ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 101: Trabalhos etnográficos com população em situação de rua: modos de existir/resistir, políticas, governos e agências
Uma etnografia de uma Escola Depósito: A (des)construção de sujeito de direitos e de infâncias descartáveis.
Nos contextos de cuidados dos direitos das crianças, diversos discursos, moralidades, controles, legitimidades, instituições estatais articulam-se em uma rede de apoio e de assistências. Através desta etnografia trato sobre diferentes formas de tutelas produzidas por uma unidade escolar em relação às crianças em território favelizado na cidade do Rio de Janeiro. A escola é considerada um depósito de indesejáveis pelos atores que a compõem. A minha análise visa demonstrar como há formas de tutelas e governo direcionadas a produção dessas crianças como descartáveis por intermédio de instrumentos que seriam para garantir seus direitos. A rede escolar é hierarquizada, neste sentido, divide e define os estudantes e funcionários os direcionando para escolas específicas. O contexto da cidade carioca está entrelaçado em minhas análises, ao qual o cotidiano de guerra reverbera tanto na ação de extermínio direto, quanto nas ações de governo em um extermínio das dignidades cotidianas e subjetivas. Este trabalho analisa como a produção desta escola depósito implica na distribuição dos corpos e subjetividades considerados como problemas diante dos marcadores sociais da diferença, atuando em processos de sujeição dessas infâncias. Minhas análises verificam que as múltiplas violências e humilhações desaguam na produção de corpos descartáveis. Da mesma maneira, analiso como os processos de sujeição dos estudantes e funcionários da escola estão relacionados com a utilização e instrumentalização de laudos médicos e psiquiátricos. Os laudos são mecanismos produzidos para a promoção de direitos e resguardos, quando atrelados a certas escolas estes possibilitam rearranjos para a produção de sujeitos de direitos. Nesta etnografia viso demonstrar que os laudos são instrumentalizados para o funcionamento escolar, veiculando modos de contornar os conflitos, assim como formas de deslegetimações e antagonismos. No campo são operadas as categorias, ao mesmo tempo médicas, sociais e pedagógicas: pessoas laudadas, pessoas incluídas e pessoas sem laudo incluídas por atos diagnósticos. Deste modo, os laudos são operados para a suspensão de direitos, sendo um instrumento de descartar corpos e subjetividades indesejáveis. Nesse cotidiano escolar, observei a produção de uma necropolítica para aqueles que seriam considerados moralmente inferiores, sem necessidade de espaços dignos, suspendendo seus direitos, os desumanizando, produzindo infâncias descartáveis. A cadeia de autoridades delegadas que circulam pela unidade está relacionada com a gestão de moralidades, precariedades e as suspensões de direitos, produzindo um cotidiano de sofrimento e adoecimento de todos que ali trabalham e estudam. Palavras-chave: escola depósito, laudos, necropolítica, sujeitos de direitos.