Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 070: Memórias sensíveis, contramemórias e patrimônios incômodos: políticas, suportes e narrativas nas cidades
O dito e o não dito: A procura da diversidade sexual no Museu de Arte de Belém.
Como braço direito do projeto moderno-colonial, o museu se estruturou historicamente no apagamento
consciente de identidades dissidentes do cidadão produzido como ser da matriz de pensamento ocidental, por
isso, essa instituição deve ser compreendida como uma unidade pedagógica das discursividades nacionais
(BOITA, 2020). Nesse sentido, apresento algumas reflexões produzidas em minha atuação como bolsista de
iniciação científica, tendo como objetivo primordial em meu plano de trabalho detectar as formas de
enquadramento que corpos dissidentes, no tocante à diversidade sexual, ocupam em processos de musealização.
Dessa forma, é preciso questionar: quem são os sujeitos esquecidos? Qual o papel que o museu pode tomar
frente às contradições impostas por esse processo? Para isso, a metodologia se estrutura em uma ampla
pesquisa bibliográfica para fornecer a sustentação necessária para a análise dos acervos museais em pesquisa
de campo. Dessa forma, foram realizadas entrevistas curtas com um dos profissionais responsáveis ligado à
reestruturação das coleções e uma outra com um dos estagiários.
O Museu de Arte de Belém (MABE), localizado no Palácio Antônio Lemos, possui um imponente acervo artístico
representativo da ideologia burguesa da qual se liga de forma direta às discursividades modernas que
estruturam a matriz de pensamento da museologia nacional. Sua reabertura em 2024 representou um novo marco
em sua formulação, dando destaque a outros sujeitos em suas exposições.
Entretanto, há uma invisibilização no que se refere à diversidade sexual e de gênero e suas estratégias de
vida. O quadro mais próximo dessas tensões, na interpretação de um dos profissionais do museu, se intitula
Meditação de José Girard, no entanto, é algo muito ambíguo no percurso museal.
Nota-se como na produção de coleções museais, quando se tem, sexualidades dissidentes muitas das vezes
habitam o penhasco entre o segredo e a revelação, é como se essas narrativas não pudessem habitar a história
nacional e ocupassem o espaço do que é proferido por alguns profissionais, mas que nunca é reverberado pelo
percurso museal (SOLIVA; MENEZES NETO, 2022). Por quais motivos tal invisibilização ocorre em meio às
formulações das coleções, mesmo nas que proponham serem inclusivas?
Assim, o MABE ousa construir outras discursividades da identidade belenense, mas precisa compreender quais
sujeitos ainda permanecem às margens e que as coleções devem estar em permanente movimento, sobretudo em
coleções que se proponham a debater a pluralidade concreta da sociedade. Tal ímpeto é crucial para que os
mais variados grupos possam alcançar de forma plena o direito à memória e o exercício da cidadania
patrimonial.