Trabalho para Mesa Redonda
MR 69: Socialidades animais nas ciências humanas e sociais: desafios multidisciplinares e diálogos multiespécies
Biolinguagem: os nós que tecemos, e as pontas que nos deixam soltas
Antropólogos e outros e outras cientistas sociais têm usado, nas últimas décadas, a noção de tradução, ou de rede, para seguir o afazer e os quase-objetos das ciências naturais, repovoando as naturezas de agências humanas, e as sociedades (e os discursos) de coletivos inumanos. Essa virada ontológica e colaborativa, bem como a tarefa de reatar o nó górdio que enreda sociedade, natureza e linguagem, podem ser ainda mais promissoras se surpreendermos investigadoras nativas e nativos – como os biólogos, ou nós, linguistas – co-tecendo a mesma trama desde seus próprios nichos. Longe dos cantos de sereia naturalistas (da sociobiologia) ou estruturalistas (da sociolinguística), é possível costurar uma biologia do social, em especial no contexto das socialidades multiespécies, e uma linguística outra-que-humana, em especial no entendimento dos encontros e desencontros animal-humano. Penso, como bons caminhos explicativos, na teoria da deriva natural dos biólogos chilenos Maturana e Mpodozis (a chamada Escola de Santiago), na teoria dos sistemas em desenvolvimento de Susan Oyama, e no linguajar das linguistas Julie Tetel Andresen e Cristina Magro. Latour propôs certa vez que as redes eram mais flexíveis que a noção de sistema, e mais históricas que a de estrutura. Talvez as ciências nativas ajudem Ariadne a encontrar fluidez também nas dinâmicas sistêmicas e nas derivas estruturais.
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