ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 009: Antropologia da Economia
Dinâmicas econômicas, práticas alimentares e cuidados de saúde no Complexo da Maré, Rio de Janeiro/RJ
Neste trabalho, apresentamos uma análise que entrelaça dinâmicas econômicas, alimentação e saúde. Nosso ponto de partida é um projeto de pesquisa coletiva, realizado em duas comunidades do Complexo da Maré, Rio de Janeiro/RJ. A partir da abordagem etnográfica, situamos como dinâmicas econômicas e práticas alimentares se articulam com cuidados de saúde, sobretudo em casos nos quais interlocutores necessitam fazer tratamentos contínuos de doenças crônicas, em contextos urbanos de baixa renda. Com a pesquisa, visualizamos como diferentes modos de gerir o dinheiro nas casas levam em conta despesas, previsíveis ou não, com alimentação, remédios, tratamentos e demais formas de cuidado. Além da busca por tratamentos contínuos, que podem estar indisponíveis ou disponíveis na rede pública de saúde, os nossos interlocutores demonstraram como os gastos com as doenças influenciam em seus orçamentos e na composição do dinheiro da casa. Essa situação gera efeitos em suas práticas alimentares, já que restringe os valores de dinheiro destinados à comida e demais despesas, repercutindo em maior consumo e uso de alimentos processados de baixo valor nutricional, ou aumentando a dependência de outros cuidadores. Na luta cotidiana pela gestão de recursos escassos, a farmaceuticalização da saúde se associa a diferentes estratégias calculativas (pesquisar e calcular os valores dos remédios) e experiências inflacionárias, temporalidades de políticas públicas, tecnologias médicas e relações territoriais específicas. Outro aspecto analisado se refere ao plano discursivo e que gera efeitos práticos ao cotidiano. Em alguns casos, observamos como percepções sobre as restrições, impostas pela inflação e pelas doenças, fomentam a necessidade de ser ajudado, fazendo com que familiares, amigos e vizinhos se envolvam na alimentação e no preparo de comida, ou na compra de produtos e insumos ao adoentado. Alguns interlocutores, sobretudo idosos e inaptos às atividades laborais, empregam o vocabulário dos sofrimentos psíquicos e corporais para justificar a impossibilidade de preparação de sua própria comida, revelando como o “não cozinhar é parte fundamental da expressão de aflições, comorbidades e/ou de traumas oriundos de eventos críticos. Assim, as maneiras de lidar com as aflições e doenças servem, por vezes, como motivadoras à circulação de alimentos entre as casas, fomentando diferentes circuitos de cuidado, estratégias, cálculos e fluxos de dinheiro. Palavras-chave: Dinâmicas econômicas; alimentação; saúde; Complexo da Maré/RJ.