Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 023: Antropologia e saúde mental: sofrimento social e (micro)políticas emancipatórias
"MATEI PORQUE FILHA MULHER SOFRE MAIS DO QUE HOMEM": uma etnografia documental da trajetória institucional de Nadine, entre modos de subjetivação e discursos de poder
Este trabalho tem por objetivo analisar a (re)produção discursiva sobre as representações sociais da loucura e da periculosidade associada a ela, materializadas na figura de Nadine , uma mulher com transtornos psíquicos em conflito com a lei, que foi internada no Hospital Geral Penitenciário (HGP) do Pará. Pretendeu-se investigar de que forma esses discursos atuam como modo de justificar mecanismos de poder em uma instituição que possui caráter tanto manicomial, quanto carcerário. Nadine, de outra mão, sustenta narrativa diversa sobre ela mesma, que também são exploradas. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica a respeito dos processos de produção discursiva que conduziram às concepções estigmatizadas sobre as ditas loucas infratoras no Brasil. Posteriormente, foi realizada uma etnografia de e em documentos, momento no qual foi analisado o processo judicial que perpassa a internação da interlocutora no HGP, com ênfase nos laudos psiquiátricos, avaliações de equipes multidisciplinares e decisões judiciais presentes nos autos, atentando-se, sobretudo, a como se manifestam os distintos discursos sobre a trajetória de Nadine. A opção pela etnografia em documentos se mostrou via importante para acessar as narrativas em disputa quanto ao destino de uma mulher colocada sob a tutela dos poderes-saberes considerados competentes para decidirem sobre esse aspecto, narrativas essas que abrangem também as suas próprias, considerando seus agenciamentos e estratégias de resistência ao horror do manicômio judiciário.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
Associação Brasileira de Antropologia - ABA