ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Mesas Redondas (MR)
MR 43: Mineração, dependência e patronagem: compreendendo a recorrência dos desastres minerários em Minas Gerais
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Coordenação:
Rafael Gomes de Sousa da Costa (UFES)
Debatedor(a):
Cristiana Losekann (UFES)
Participantes:
Tádzio Peters Coelho (UFV)
Vinicius José Ribeiro da Fonseca Santos (UFMG)
Rafael Gomes de Sousa da Costa (UFES)

Resumo:
O termo patronagem tem sido utilizado pela antropologia para demonstrar como um intrincado padrão de relações pessoais, fundado num jogo de lealdades e deveres entre atores desiguais, está no centro das instituições políticas e econômicas de sociedades capitalistas pós-coloniais, como a sociedade brasileira. Utilizado para compreender formações sociais minério-dependentes na América Latina, sendo o trabalho de June Nash “We eat the mines and the mines eat us” (1978) a principal referência, a patronagem tem-se revelado um conceito útil para descrever como, nos territórios minerados, pautas coletivas em prol de melhores condições de trabalho e bem-estar são retraídas por uma série de obrigações morais que segmentos amplos da população estabelecem com as empresas mineradoras. Na tentativa de debater a pertinência do termo para compreender não somente da mineração em Minas Gerais, mas também a forma como são construídas as repostas para os seus desastres, a mesa sugere aos seus participantes as seguintes reflexões: Quais seriam os fundamentos sociológicos da patronagem em realidades minério-dependentes? Como lidar com a temporalidade das relações patrão-cliente na formação histórico-econômica de Minas Gerais? Quais seriam as congruências entre essas relações e as estratégias empresarias de inserção nos territórios? Como os laços de patronagem se relacionam com os aparatos jurídico-administrativos da mineração no Estado?

Trabalho para Mesa Redonda
Mineração e comunidades: reflexões sobre poder e resistência
Jessica Lorrany de Jesus Silva (UFMG)
Resumo: A instalação de um empreendimento de mineração pode parecer a chegada do progresso para populações antes dedicadas a ciclos locais ou regionais de produção. As oportunidades de emprego são acompanhadas por novos hábitos de consumo e a ampliação da infraestrutura necessária para atendimento em bens e serviços. Mas, ao assumir responsabilidades pertencentes ao Estado, como moradia, saúde e educação, a relação que se estreita entre empresas e comunidades ultrapassa a dinâmica patrão-empregado e se divide entre resistência e desejo, sendo que a força de trabalho, a obediência e a lealdade são o preço pago para usufruir daquilo que a empresa pode proporcionar. Nesse sentido, analisando o histórico de instalação da mineradora Samarco em Mariana, Minas Gerais, e o desastre deflagrado com o rompimento da barragem de Fundão em 2015, este trabalho pretende, a partir dos trabalhos de June Nash, We eat the mines and the mines eat us (1979); Aníbal Quijano, Colonialidade, poder, globalização e democracia (2002) e Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina (2005); Eduardo Gudynas, Extractivismos: Ecología, economía y política de un modo de entender el desarrollo y la naturaleza (2015); Andréa Zhouri, Paola Bolados e Edna Castro (orgs.), Mineração na América do Sul: neoextrativismo e lutas territoriais (2016); e Henri Acselrad (org), Políticas territoriais, empresas e comunidades: o neoextrativismo e a gestão empresarial do social (2018), refletir sobre as relações de poder estabelecidas no período colonial e atualizadas nas diferentes gerações do extrativismo vivenciadas em Mariana e nas respostas institucionais ao desastre sociotécnico.