Mesas Redondas (MR)
MR 41: Mídias e evangélicos no Brasil contemporâneo: novas perspectivas analíticas
Coordenação:
Raphael Bispo dos Santos (UFJF)
Debatedor(a):
Carly Barboza Machado (UFRRJ)
Participantes:
Nina Rosas (UFMG)
Olívia Bandeira de Melo Carvalho (Intervozes)
Raphael Bispo dos Santos (UFJF)
Resumo:
Um tradicional eixo de debate antropológico no Brasil procurou refletir sobre a utilização das mídias por instituições religiosas, sobretudo a partir da segunda metade do século XX. As chamadas “terceira onda evangélica” ou a “Renovação Carismática Católica”, por exemplo, foram caracterizadas pela utilização efetiva dos meios de comunicação nos processos de evangelização. A disputa por outorgas de canais de rádio e televisão, a disseminação da música gospel ou a emergência de celebridades religiosas instigaram discussões sobre a manutenção de fiéis e a visibilidade no espaço público. Sendo assim, a proposta desta mesa-redonda é evidenciar novas perspectivas analíticas sobre os entrecruzamentos entre mídias e religiosidades, realçando como seus usos por diferentes sujeitos vêm estimulando uma multiplicidade de formas de vivenciar a fé na contemporaneidade. A partir da ênfase nas práticas midiáticas efetuadas por evangélicos em seus cotidianos, as apresentações visam: 1) destacar a influência do mundo digital no campo religioso; 2) compreender as tecnologias de gênero, sexualidade e outras intersecções que perpassam os processos de fazer-se evangélico/a; 3) atentar para os ativismos digitais tidos como “conservadores” ou “progressistas” que mobilizam certos segmentos dentro e fora das igrejas; 4) realçar as experiências de conversão e o impacto das redes sociais no grau de intensidade religiosa, dentre outros assuntos.
Trabalho para Mesa Redonda
Nina Rosas (UFMG)
Resumo: Esta reflexão analisa, em primeiro lugar, a campanha articulada nas redes sociais, em
junho de 2023, pelo pastor André Valadão, contra a comunidade LGBT+. Recupera-se o
modo como foram provocados sentimentos de ódio, repugnância e desqualificação
das dissidências sexuais e de gênero, a partir da mobilização de noções como guerra
espiritual, pecado, humildade e sacrifício. Evidencia-se ainda críticas feitas à
transexualidade, ao aborto e à educação sexual nas escolas, em nome da defesa da
família, do binarismo de gênero, da heterossexualidade e de um tipo específico de
masculinidade que visa repor a autoridade dos homens. Em segundo lugar, volta-se à
compreensão dos excertos de fala do pastor Lucinho Barreto, relativos à educação
sexual dos filhos, que viralizaram em maio de 2024, suscitando discussões sobre
pedofilia e homofobia. Aposta-se que esses dois exemplos de midiatização da religião
se circunscrevem no acirrado ativismo antigênero empenhado pelos evangélicos,
evidenciando como certa vertente da religião digital resiste à diversidade, dá subsídio
a expressões de abuso e se apropria de categorias presentes em outro campo
ideológico e que compõem uma gramática que está em disputa.
Trabalho para Mesa Redonda
Olívia Bandeira de Melo Carvalho (Intervozes)
Resumo: A partir do mapeamento de perfis de lideranças religiosas evangélicas nas redes
sociais, com foco em sua atuação relacionada às questões de gênero, esta
apresentação tem o objetivo de discutir as múltiplas mediações comunicacionais da
esfera religiosa no espaço público. Dessa forma, busca ampliar a compreensão do que
vem sendo considerado como liderança religiosa e autoridade religiosa nos estudos na
interface entre mídia e religião. O mapeamento das lideranças nas redes sociais
considera não apenas aquelas tradicionalmente legitimadas, como pastores, mas
também lideranças políticas, apresentadores/as de programas de rádio, TV e internet,
influenciadores/as digitais, cantores/as gospel, artistas etc. que podem ou não
representar uma instituição religiosa. Os agentes mapeados, oriundos de diferentes
trajetórias, se inserem nos ativismos religiosos que têm no gênero um de seus temas
centrais, protagonizando embates que antagonizam os direitos das mulheres e da
população LGBTQIAP+ e os ativismos antigênero. Observa-se que esses embates não
se configuram apenas como uma disputa do mundo religioso evangélico contra os
ativismos em prol dos direitos das mulheres e da população LGBTQIAP+, pois o
mapeamento das redes sociais permite observar como no interior do mundo
evangélico as questões de gênero também são disputadas, assim como as diferentes
maneiras de se pensar o gênero a partir de uma ótica cristã e as pessoas autorizadas a
falar em nome do cristianismo.
Trabalho para Mesa Redonda
Raphael Bispo dos Santos (UFJF)
Resumo: O objetivo desta apresentação é refletir como disposições morais e subjetivas
religiosas são mediadas pelas interações sociais em suas fronteiras com as novas
tecnologias de comunicação e informação digitais. O trabalho baseia-se na observação,
acompanhamento e análise de conteúdos produzidos e compartilhados entre artistas
evangélicas e seus seguidores na internet. Fofocas e tretas sobre trajetórias religiosas
emergem nos debates escritos, gravados e narrados nas plataformas virtuais de
mulheres famosas envolvidas em algum momento de suas histórias pessoais com
igrejas evangélicas. Acionando categorias analíticas como interrupções e colapsos
morais, busca-se neste texto atentar para a dimensão da relacionalidade presente nos
conflitos morais e emocionais, comuns aos processos de transformações de si frente às
vivências ordinárias da fé.
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