Redes sociais da ABA:
GT 053. Políticas patrimoniais, conservadorismo político e os novos desafios da antropologia
Apresentação Oral em GT
Diana Dianovsky
Agentes do patrimônio em ação: entre o conhecimento especializado e as práticas estatais na construção dos patrimônios imateriais
Nas últimas décadas, ocorreu uma ampliação no campo das políticas de patrimônio cultural, principalmente, a partir da inclusão dos chamados “patrimônios culturais imateriais”. São bens culturais relacionados aos modos de viver, saberes, celebrações e expressões artísticas de diferentes comunidades – antes alijadas das narrativas de identidade nacional. Para operar esses novos processos patrimoniais, foram recrutados (nem tão) novos profissionais, em particular, antropólogos. O objetivo desta apresentação é introduzir as primeiras análises das entrevistas realizadas com esses agentes em que se coloca em questão a relação entre o fazer antropológico e a fabricação do Estado por meio de ações governamentais relacionadas às políticas de salvaguarda do patrimônio imaterial. As entrevistas foram realizadas desde fins de 2017 com servidores públicos aprovados em concurso para o cargo de Técnico em Ciências Sociais ou Antropologia do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan/Brasil), tendo como base para esse diálogo o mapa mental da tese de doutorado que ora desenvolvo. Esta pesquisa centra-se numa abordagem de etnografia das instituições e, em particular, da burocracia, não se tratando de análise sobre ethos ou identidade profissional. Navegando entre formação acadêmica, atuação profissional, tecnologias de governo, estruturas estatais, cultura institucional, ética, prática, cidadania e redes de relação, esses novos atores colocam em ação o processo de patrimonialização de bens culturais imateriais por meio de um conhecimento especializado. Esse sobrevoo inicial pelos elementos etnográficos já reunidos me permitiu problematizar e adensar certas concepções presentes na literatura sobre o “ofício do antropólogo extramuros”, colocando em perspectiva noções como “mediação” e “ética” e percepções sobre “tempo” e “campo”. Se, de forma geral, antropólogos foram recrutados para as carreiras e cargos da administração pública a fim de atenderem às demandas por políticas públicas voltadas para povos e comunidades tradicionais – e respaldadas pela Constituição Federal de 1988 –, a postura reflexiva adquirida na formação antropológica não só atende a essa atuação do Estado, mas também o transforma na medida em que esses profissionais buscam compreender as estratégias de ação, performances, discursos e visões de mundo dos diversos atores que compõem aparelho estatal. Portanto, neste diálogo com o “público-alvo” das políticas patrimoniais, a sociedade civil, academia e demais gestores, estes antropólogos propõem diferentes práticas para o “fazer Estado”. Com essa análise, pretendo adicionar um novo relevo à compreensão da construção do Estado por meio das políticas de patrimônio cultural imaterial e da produção da antropologia no atual contexto.