GT 029. Culturas populares, rituais, festas e sujeitos em performance: diversidade sexual, racial e de gênero
Apresentação Oral em GT
Felipe Gabriel de Castro Freire Oliveira
Nobres subversivos: a performance de mestres-salas e porta-bandeiras e possíveis debates sobre gênero, sexualidade e raça
A presente proposta de artigo tem como objetivo apontar questões acerca de gênero, sexualidade e raça por meio do estudo das performances e das identidades dos casais de mestres-salas e porta-bandeiras de escolas de samba do sudeste do Brasil. Essa temática integra uma pesquisa de mestrado mais ampla acerca da transmissão de conhecimento sobre esse elemento carnavalesco na cidade de São Paulo.
O casal é um dos elementos constitutivos das escolas de samba, agremiações essas que integram um concurso de desfiles de carnaval, produzidos ao longo de todo um calendário festivo anual. A dupla é responsável por executar uma dança específica ostentando, no caso da porta-bandeira, o pavilhão da instituição - uma bandeira com os símbolos representantes desse agrupamento -, ao lado do mestre-sala, que a corteja. Por se tratar de uma dança com um objeto tido como sagrado pelos componentes das agremiações, os dois devem estar sempre trajados com vestimentas luxuosas e se comportar de maneira altiva, cordial e elegante, além de respeitar protocolos de manuseio desse utensílio “totêmico”.
Como indicam as categorias nativas, o casal deve ser formado por um “homem masculinizado” e uma “mulher feminizada”, algo provavelmente ligado ao passado em que o mestre realizava a proteção da porta-bandeira contra ataques de outros agrupamentos carnavalescos. No entanto, em um período recente de maior organização dos concursos e de crescente profissionalização dos saberes que compõem uma escola de samba, surge uma controvérsia entre interlocutoras e interlocutores que, em parte, afirmam que essas funções devem ser desempenhadas não apenas durante as atividades das agremiações, mas também ininterruptamente na vida cotidiana; e, por outro lado, defensoras e defensores da ideia de que se trata de cargos que possuem regras a serem cumpridas estritamente durante as suas performances, não sendo necessário o cumprimento fora desse âmbito festivo, possibilitando, por exemplo, homens cis homossexuais dançarem como mestres-salas ou como porta-bandeiras. Quem pode dançar, como devem ser esses corpos e seus comportamentos são interrogações concernentes a esses cargos, questionados de maneira mais incisiva nos últimos anos, período também de maior ganho de espaço dos debates sobre direitos individuais na agenda pública.
À luz de estudos sobre carnaval, ritual, performance e de pesquisas acerca dos marcadores sociais da diferença, farei um exercício de análise sobre a dança e a função de mestre-sala e porta-bandeira por meio de casos bons para pensar essas subjetividades. Acredito que tais apontamentos poderão propor reflexões sobre como as performances - nesse caso, de forma central, a dança - podem, por exemplo, contribuir para a compreensão das diferentes dimensões de gênero, sexo e raça.