GT 029. Culturas populares, rituais, festas e sujeitos em performance: diversidade sexual, racial e de gênero
Apresentação Oral em GT
Maria José Villares Barral Villas Boas
Masculinidade entre crianças negras: uma reflexão sobre raça e gênero no Nêgo Fugido em Acupe/BA
O Nêgo Fugido é uma performance cultural que teatraliza a luta pela liberdade escrava no Brasil pelas ruas de uma comunidade chamada Acupe, distrito de Santo Amaro, situada no Recôncavo Baiano. Durante muitos anos o Nêgo Fugido foi composto somente por homens da comunidade. A partir da década de 1990, a manifestação passou por transformações que permitiram incluir a participação de crianças e mulheres. Neste work, dialogo com autoras feministas como Lélia Gonzales, Angela Davis, Bell Hooks, Daniel Welzer-Lang, Adrienne Rich, dentre outras, para discutir como a manifestação artística de cunho popular pode produzir uma performatividade de gênero nas crianças da localidade. A estratégia de pesquisa esteve embasada na etnografia, com uma combinação de diferentes estratégias qualitativas de pesquisa, como observação participante, captura de imagens in locu, elaboração de diário de campo escrito e fotográfico, e interlocução com as próprias crianças através de entrevistas semi-estruturadas. Ao longo de uma contínua pesquisa iniciada em 2012 até hoje, é possível identificar que algumas concepções de masculinidade e feminilidade da comunidade são produzidas e reproduzidas pelas crianças através da performance artística e da expressão das emoções no Nêgo Fugido, assim como nas relações estabelecidas fora do âmbito da apresentação, interferindo na construção dos corpos e na identidade de gênero das crianças. Argumento que existe uma performatividade de gênero específica e compartilhada no Nêgo Fugido, produzindo uma noção de masculinidade hegemônica e contra hegemônica que atravessa meninas e meninos, numa negociação entre rupturas e reafirmação de estereótipos de mulheres e homens negros.