Redes sociais da ABA:
GT 029. Culturas populares, rituais, festas e sujeitos em performance: diversidade sexual, racial e de gênero
Apresentação Oral em GT
Ester Paixao Correa
A mulher no comando da Marujada: “Ser Capitoa” da Marujada de São Benedito de Bragança-Pa
A Festa de São Benedito de Bragança é uma das manifestações mais importantes do calendário de festas religiosas da Amazônia paraense. Muitas dessas festas religiosas (Silva, 2013), presentes em todo Brasil desde o período colonial, são palco do protagonismo feminino, se constituindo como universos simbólicos privilegiados, “bons para pensar” (Lévi-Strauss, 1989) as relações de diversos grupos sociais. Busco revelar a presença dessas mulheres nas festas religiosas, por uma perspectiva agentiva, na qual penso as mulheres como protagonistas, considerando essas manifestações culturais e religiosas não como reminiscência de um passado que resistiu às transformações no decorrer do tempo, e sim como parte de um passado que se transformou (Wagner, 2010) por meio das agências e projetos (Ortner, 2007) das sujeitas que mediante as ações e estratégias conseguiram manter vivas as manifestações culturais que consideramos como patrimônios culturais do Brasil. Dentre essas protagonistas, destaco neste work as Capitoas da Marujada de Bragança, representação máxima de um ritual (Leach, 1986) de dança que é considerado o mais importante da Festa de São Benedito que ocorre em Bragança no mês de dezembro, no estado do Pará. A Capitoa é a protagonista da marujada! Comanda as demais marujas durante os diversos momentos do ritual, que inclui performance de dança e manifestação de religiosidade(s), somados nos vários momentos rituais (Peirano, 2006) no decorrer de todo ciclo da festa. O objetivo deste work é analisar a presença da Capitoa na Marujada de Bragança, realizando uma reconstrução da presença histórica dessas personagens, revelando suas identidades e participação na marujada, trazendo também uma reflexão sobre os (re) significados do lugar de Capitoa no contexto contemporâneo da Festa de São Benedito. Esta pesquisa é parte de uma etnografia que buscou nas entrevistas com marujas e com a atual Capitoa, nos registros da atual Irmandade da Marujada de São Benedito de Bragança, na bibliografia sobre a festa e na participação observante na festa durante os anos de 2015 a 2017, os dados para contar uma história apagada da literatura sobre a festa, em uma narrativa que privilegia a histórias das Capitoas. Tento evidenciar a importância da participação histórica das mulheres na marujada, preenchendo com o texto uma lacuna que existe sobre o protagonismo das Capitoas, considerando estas como sujeitas atuantes na manutenção da marujada no decorrer dos 217 anos de realização.