GT 029. Culturas populares, rituais, festas e sujeitos em performance: diversidade sexual, racial e de gênero
Apresentação Oral em GT
Hayeska Costa Barroso, Andréa Borges Leão
A festa junina como configuração e os padrões de gênero: uma análise à luz da Teoria Eliasiana
O presente ensaio tem por objetivo tecer reflexões sobre a festa junina e os padrões de gênero nesta à luz da teoria de Norbert Elias. A obra tomada como referência para a análise em questão é O Processo Civilizador (2011), volume 1, na qual o autor delineia alguns aspectos teóricos centrais para o entendimento da totalidade da teoria do processo civilizador, a exemplo das incursões a respeito da formação e estrutura de uma (con)figuração, dos movimentos históricos, lentos e graduais, de mudanças e transformações de determinados padrões de comportamento e costumes. Assim, tomando-o como chave de leitura, debruçamo-nos, desde tão logo, no entendimento da festa junina como uma configuração, ou seja, uma estrutura social em permanente transformação, cuja composição se dá por elementos interdependentes (e não independentes) entre si; portanto, não se trata de um campo estático e/ou harmônico, mas marcado pelo seu caráter mutável, em constante devir, para além de sua expressão e/ou manifestação imediata. Interessa-nos apreender, assim, suas “configurações dinâmicas específicas” (ELIAS, 2001, p. 213), atravessadas de tensões. Metodologicamente falando, o campo empírico das observações aqui tecidas é a festa junina no estado do Ceará, sobretudo os festivais de quadrilhas juninas que ocorrem na cidade de Fortaleza e região metropolitana, cujo marco temporal se dá desde o ano de 2015 até os dias atuais.A festa junina se tornou espaço poderoso de visibilidade trans/gay, assim como o carnaval, a parada LGBT, a festa do boi de Parintins, e parece inegável como as festas populares têm esse denominador comum, revelando uma “amplitude nacional da participação LGBT nos contextos de produção da cultura popular” (NOLETO, 2016, p. 15). A festa junina entendida como processo tem a capacidade de “[...] aponta[r] problemas sociológicos acerca da dinâmica social como um todo” (ELIAS, 2011, p. 29). A configuração não existe sozinha, logo, quando um grupo se reposiciona, os outros também se reposicionam, num duplo condicionamento, interior e exterior ao individuo. A festa junina não deve ser compreendida de maneira isolada da totalidade da vida social, ou mesmo como uma excepcionalidade. Ela expressa padrões de conduta de uma estrutura social predominamente heteronormativa e binária como padrão de gênero hegemônico. Os elementos do processo social, a modelação dos padrões de comportamento da festa, a necessidade de se adequar a um padrão de feminilidade/masculinidade que, dentro da festa, se tornou uma necessidade para a sua realização, compõem, em linhas gerais, a configuração da festa junina como processo, como configuração.