Grupos de Trabalho (GT)
GT 060. Prostituição e direitos humanos em tempos de reação
Thaddeus Gregory Blanchette (UFRJ Macaé) - Coordenador/a,
Flavia do Bonsucesso Teixeira (Universidade Federal de Uberlândia) - Coordenador/a
Resumo:
No decorrer dos últimos 125 anos, passaram sucessivas “ondas” de políticas públicas que supostamente resolveriam a questão da prostituição. Neste contexto, o Brasil tem adotado uma política constante, porém ambígua, que é declaradamente abolicionista, enquanto pragmaticamente devolve a “regulamentação” cotidiana da prostituição às autoridades locais. Essas, por sua vez, frequentemente administram o comércio do sexo através de concordatas extra-oficiais com vários poderes paralelos. Isto tem feito o ofício de vender sexo, no Brasil, algo extremamente arriscado e sujeito a constantes violações dos direitos humanos dxs trabalhadrxs do sexo. O presente GT contemplará trabalhos que focalizaram na interface entre o trabalho sexual e os direitos humanos, particularmente os que focalizam nos conflitos e colaborações entre as trabalhadoras sexuais, agentes do governo e outros grupos. Em particular, estamos interessados em trabalhos que expõem transformações nessas interações em anos recentes, particularmente no contexto da gentrificação e “higenização” dos espaços urbanos, da luta contra o assim-chamado “tráfico humano”, e das reações contra práticas e identidades sexuais, ou que demonstram permanências frente essas pressões. Também aceitaremos trabalhos que refletem sobre o engajamento antropológico com o trabalho sexual, particularmente apresentações que focalizam nas questões éticas decorrentes desse envolvimento.
Apresentação Oral em GT
Carla Cristina de Souza, Tiago Duque
Desejo e a agência na prostituição universitária: uma análise de um site de acompanhantes em Campo Grande (MS)
Resumo: Este artigo busca trazer uma reflexão sobre as profissionais do sexo e os direitos humanos através de uma discussão sobre o desejo e a agência. Isto é, usando como base bibliográfica, principalmente, as teorias pós críticas, pretende-se pensar a escolha da prática da profissão como um direito humano. Compreendemos agência como a capacidade do sujeito agir, mediada culturalmente e socialmente (PISCITELLI, 2008). Neste sentido, a agência será discutida a partir dos dados iniciais de uma pesquisa de mestrado em Antropologia Social sobre prostituição de mulheres que se anunciam como “universitárias” em Campo Grande (MS). Propomos apresentar como as profissionais do sexo agenciam um programa a partir dos anúncios que elas criam em um site de acompanhantes (Photo Acompanhantes). A análise dos perfis neste site foi realizada através de uma “etnografia de tela” (RIAL, 2004). Nele, elas divulgam seus contatos telefônicos, fotos, valores e locais de atendimento. O enfoque é naquelas que utilizam a tag de “universitária”, para apresentar um perfil específico de profissional, marcado por determinada classe, cor/raça, e, principalmente, geração. “Universitária”, nesse artigo, é pensada como uma categoria dentro da economia sexual. Não necessariamente são mulheres que estão matriculadas em algum curso universitário, antes, utilizam-se desta categoria no sentido de conseguir clientes que sentem desejo por um perfil específico de mulher, envolvendo “fluxos desejantes” (DELEUZE, 1998) e “tensores libidinais” (PERLONGHER, 2008). Contudo, a sexualidade, de diferentes formas, é regulada através do controle, vigilância e disciplina, via os dispositivos de poder (FOUCAULT, 1993). Na prostituição de mulheres não é diferente. Visto, por exemplo, já na época vitoriana (MCCLINTOCK, 2003) como “o sexo sujo”, o sexo quando praticado por mulheres era (ou ainda é) identificado, seja pela igreja e mesmo pelo Estado, principalmente para fins de procriação. Desta forma, propomos refletir como o direito, respaldado pelo desejo e agência, deveria garantir que mulheres pudessem trabalhar sem serem vistas como necessariamente vítimas (pois não necessariamente são), “exploradas sexualmente”, a partir de uma análise das descrições expostas nos perfis criados por profissionais do sexo “universitárias” em um site de acompanhantes. As considerações preliminares apontam para o entendimento, via o desejo e a agência, de que o direito à prostituição pode contribuir para uma auto-identificação das mulheres profissionais do sexo.
Pôster em GT
Tatiana Bezerra de Oliveira Lopes
Prostituição masculina no Brasil: um estudo sobre a produção teórica nacional desde o Negócio do Michê
Resumo: O Negócio do Michê, dissertação do antropólogo Néstor Perlongher, ocupa um lugar pioneiro nos estudos sobre a prostituição masculina no Brasil. É a partir da década de 1980, quando Perlongher inicia sua pesquisa, que outras produções tematizam esse negócio do desejo. O presente estudo começa com um levantamento bibliográfico, no qual quarenta e cinco produções teóricas sobre o tema foram encontradas. Com as pesquisas catalogadas criamos um perfil sociológico do que vem sendo discutido no país. Nossa proposta foi mostrar como este conhecimento vem sendo desenvolvido no Brasil. Em um segundo momento, trabalhamos com às questões que perpassam gênero, sexualidade e marcadores sociais da diferença, a partir dos elementos presentes nas pesquisas localizadas. Nossos resultados sugerem que a discussão da prostituição masculina no Brasil, ainda é tímida e que temas como raça, performance de gênero e homossexualidade são basilares no cenário do sujeito que se prostitui e daquele que paga por seus serviços. Além disso, notamos que, embora o quantitativo de works mobilizados neste panorama da produção nacional sinalize que a temática continua periférica no estudo de gênero e sexualidade, há um campo de possibilidades em aberto que ainda guarda uma série de inquietações passíveis de investigação.