GT 011: Antropologia do Cinema: entre narrativas, políticas e poéticas
Pôster em GT
Remisson Weslley Nobre Cordeiro
Ficção perspectiva? A força dos objetos da vida diária nas representações do cinema de Jan Švankmajer
A proposta deste work é refletir sobre a relação de agência dos objetos nas produções cinematográficas de Jan Švankmajer, tendo como aporte teórico o perspectivismo e a agência social da arte. Jan Švankmajer nasceu em Praga, no ano de 1934, começou desde cedo como artista plástico de vanguarda. Suas realizações são pertencentes ao movimento surrealista checo, abrangendo vários meios de comunicação. Švankmajer vai direto à origem do significado da animação: dar vida aos objetos inanimados. Neste work irei deter-me a dois curtas metragens equivalentes: O Apartamento (Byt), de 1968, no qual o protagonista encontra-se prisioneiro em uma casa onde todos os utensílios do cotidiano agem contra ele; e Piknik Mit Weissman, de 1968, cujo cenário gira envolto de objetos que organizam um banquete a céu aberto com intuito de enterrarem o seu proprietário. Ambas as obras apresentam os objetos como um anti protagonista, agindo em oposição ao seu criador. Isso possibilita uma retomada da noção de corporalidade tomada pelos objetos, e a subsequente predação praticada por estes.
Para abordar agência dos objetos nesses filmes, parto do work de Alfred Gell em seu Art and Agency: An Anthropological Theory (1998), e suas reflexões sobre a agência social da arte, e das recentes discussões de Viveiros de Castro (2002) em torno do perspectivismo ameríndio, bem como sua abordagem das relações sujeito/objeto que apontam para o modo como, no mundo ameríndio, os artefatos ou objetos estão carregados de agência. Em termos aproximáveis, Alfred Gell e Viveiros de Castro em seus works evidenciam a força que os objetos são portadores, refletindo assim nas relações sociais. Pretendo discutir a arte como material potencialmente ativo nas produções do artista em pauta, partindo da análise da técnica e narrativa elaborada para seus filmes, no qual ocorre constantemente essa sobreposição dos objetos sobre o sujeito. Procuro, desse modo, responder à questões que despontam ao analisar em seus filmes uma ação dos objetos criados em conjunto com o live action, refletindo sobre o movimento do cinema fictício na vida cotidiana.