Redes sociais da ABA:
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3 a 6 de agosto de 2016
João Pessoa - PB
UFPB - Campus I
GT 057: Religiões afro-brasileiras: dos quadros sinópticos às matrizes transformacionais
Apresentação Oral em GT
Fábio Batista Lima
Uma noite festiva para Mestre Didi no Orum
Me proponho a um relato etnográfico da festa para um morto no candomblé, no qual se entrelaçam cenas do ritual carregado de simbolismo e sentimentos vividos em torno da temática da morte. O foco central são as emoções compartilhadas evocadas pelos ritos os fúnebres no candomblé aos seus participantes. A descrição se dá no funeral de uma prestigiosa liderança religiosa dos candomblés tradicionais baianos, ligado ao culto dos ancestrais, o Meste Didi, filho da venerável Mãe Senhora do Axé Opô Afonjá. O evento funerário no candomblé tem a designação de Axexê – cerimônia na qual o “corpo ausente” se faz presente, através de meios simbólicos conhecidos e manipulados nos terreiros. O evento do Axexê de Mestre Didi teve grande repercussão entre os adeptos do candomblé . Foi um ato performativo e cuja finalidade, além de desfazer os vínculos com o mundo dos viventes, foi também o da última homenagem ao falecido, assim como também reverenciar os demais ancestrais da família de santo, que foram convocados a participarem do ritual, conclamando também a presença de outros mortos ilustres das comunidade dos candomblés (muitas vezes tendo seus nomes mencionados). No evento se realizou um resgate ao passado, enquanto que se produziu uma exaltação da afetividade entre os enlutados e os convidados, tanto os da família-de-santo, como os de outras casas de santo, criando assim uma “conspiração de conforto”. No ritual houve uma hiperenfatização das sensibilidades, por parte dos enlutados, reforçada pela socialização da dor, como no resgate da memória dessa liderança, ressaltando seus grandes feitos e proezas. Feitos esses ocorridos ou imagens fantasiosas, que iam, paulatinamente, produzindo uma “conspiração de conforto” na dor da perda de Mestre Didi, ao passo que se dava uma reconstituição do passado, no entusiasmo que eram evocadas as canções e delineavam novos caminhos para interpretar a dissolução do corpo do Mestre Didi e da saudade. Se por um lado, o Axexê é o espaço da socialização da comoção, da tristeza e da dor para os viventes, por outro lado tende a transformar as experiências da dor em alivio, pelas imagens e metáforas míticas tecidas no evento comemorativo da passagem da vida para a morte, do Aiyé ao Orum, através das canções e dos engajamentos corporais. Em determinados momentos, o espaço ritual é tomado, contaminado por uma alegria festiva, com vozes altas, empolgação na dança, o convencimento na audiência do melhor desempenho da dança, na fofoca sobre alguém que não dança bem ou que pronunciou as cantigas erradas e saiu do tom melódico. Oportunidade também para os ogãs mais novos demonstrarem publicamente seus conhecimentos e firmarem suas reputações como conhecedores das cantigas de “fundamento”. Culminando os batuques com grandes banquetes.