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3 a 6 de agosto de 2016
João Pessoa - PB
UFPB - Campus I
GT 057: Religiões afro-brasileiras: dos quadros sinópticos às matrizes transformacionais
Apresentação Oral em GT
Marlon Marcos Vieira Passos, Marlon Marcos Vieira Passos
Iyá Zulmira de Zumbá: uma trajetória entre nações de candomblé
A presente comunicação analisa a trajetória sacerdotal de uma senhora hoje com 82 anos, iniciada no candomblé de nação congo-angola, aos 07 anos, em 1941, tendo como mãe pequena( a segunda pessoa da mãe de santo na hora da iniciação) uma filha de santo na nação de ketu, que anos depois “refaz” a cabeça na nação jeje-mahi e se tornou uma gaiaku. Zulmira de Santana França, aos 17 anos, se vê obrigada a assumir o Terreiro Tumbenci após a morte de sua Newgua Marieta Beuí, em 1951, e para se organizar espiritualmente, recebe a missão do seu inquice Zumbá de buscar a jovem senhora que lhe tinha servido de mãe pequena em seu processo de feitura de santo. Irá encontrá-la, a partir de 1958, numa roça de nação jeje, com o título de Gaiaku Luiza de Oyá. – esta passará a ser sua nova Mãe Grande e lhe ensinará os fundamentos do ketu e do jeje. Pretendo demonstrar, a partir de minha experiência etnográfica no Terreiro Tumbenci, sob o comando da Iyá Zulmira de Zumbá (faço aqui um trocadilho proposital entre um termo nagô e outro congo-angola) como a trajetória de mãe Zulmira espelha estas três nações em seu exercício como sacerdotisa do candomblé. Analisando dados etnográficos à luz dos conceitos de Princípio de Participação (Bruhl e Bastide), Princípio de Corte (Bastide) e Equivalências Místicas (Bastide), traduzindo continuidades e descontinuidades no que, se referindo às interpenetrações de civilizações (culturas), Roger Bastide buscou sistematizar como sobrevivências africanistas na montagem do candomblé nagô visto por ele na Bahia. A perspectiva desta comunicação é etnográfica, e objetiva demonstrar como estas nações no Unzó Tumbenci coexistem, se entrecruzam, se separam, se conflitam, se transformam uma interferindo na outra, através das trocas de bênçãos, das cantigas litúrgicas, os idiomas rituais que nomeiam objetos, os adereços e apetrechos sagrados, as especificidades de cada nação ali, numa casa originalmente congo-angola, mas que se viu bastante transformada a partir da trajetória de sua sacerdotisa-mor em seu comando há 65 anos.