GT 057: Religiões afro-brasileiras: dos quadros sinópticos às matrizes transformacionais
Apresentação Oral em GT
Carolina Souza Pedreira
Almas, espíritos e caboclos em Andaraí, Bahia
Em Andaraí, cidade situada na região da Chapada Diamantina, Bahia, almas, caboclos e espíritos não se referem a seres sobrenaturais, mas a entidades dotadas de capacidades intencionais e agenciadoras compartilhadas com os humanos. Elas estão vinculadas tanto ao cotidiano das pessoas como a seus corpos, seus pensamentos e ao seu modo de viver; ao passo em que habitam realidades mais imbrincadas que paralelas, de onde, com maior ou menor facilidade, podem se ausentar. As modalidades de existência desta tríade – a transformação de uma potência que surge com a morte física em almas ou espíritos ou caboclos – são marcadas pela abstenção ou pelo comparecimento a um “tribunal divino” no pós-morte onde suas trajetórias sobre a Terra serão julgadas.
A partir de uma etnografia sobre a devoção às almas e sobre o jarê, religião de matriz africana da Chapada Diamantina, este work apresenta conexões entre os espíritos dos mortos e uma classe de caboclos, os “escravos”, espíritos responsáveis pela execução de feitiços e works. O destino dos espíritos após a morte será tratado a partir de leituras sobre a jornada das almas, a reencarnação e sobre a “sombra de morto”, aflição espiritual advinda de uma ligação doentia de um vivo a um morto ou, ainda, do morto com a Terra; e um dos motivos mais comuns de busca por tratamento nos terreiros de jarê. Acompanhando o cotidiano e as histórias de vida de alguns habitantes de Andaraí, será possível observar as zonas de diferenciação entre estes espíritos e os escravos, calcadas na habilidade de se aliar aos vivos e na vinculação à noção de pessoa corrente na região.