Redes sociais da ABA:
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3 a 6 de agosto de 2016
João Pessoa - PB
UFPB - Campus I
GT 057: Religiões afro-brasileiras: dos quadros sinópticos às matrizes transformacionais
Apresentação Oral em GT
Clara Mariani Flaksman
Algumas considerações sobre a ordem e a desordem nas religiões de matriz africana no Brasil
O objetivo desta comunicação é apresentar uma reflexão sobre o tema da ordem (e da desordem) nas religiões de matriz africana no Brasil. O evento que desencadeou esta reflexão deu-se durante um jogo de búzios, assistido pela etnógrafa: o pai de santo, assim que jogou os búzios, apresentou seu veredito ao consulente: "A sua vida está desorganizada". Questionado sobre o que deveria ser feito, ele então continuou: "Temos que colocar o trem de volta nos trilhos, botar a vida em movimento. A inércia leva ao caos." Com base nesta fala e em outras presenciadas durante pesquisa de campo feita em Salvador, pretende-se elaborar o tema da dualidade ordem/desordem nas religiões de matriz africana no Brasil. Busca-se, com isso, mostrar que essa distinção apresenta um rendimento melhor, no universo destas religiões (especificamente no candomblé baiano, lugar de minha pesquisa de campo), do que a dualidade bem/mal, já explorada de diversas maneiras nos estudos sobre o tema. Esse modelo de oposição permite realçar algumas características destas religiões, notadamente a tendência dita "natural" à desordem e os diversos modos de restauração de sua ordem. A ideia central da comunicação é que, na cosmologia das religiões de matriz africana no Brasil, o mundo é fundamentalmente instável, devendo, portanto, ser constantemente estabilizado – para logo depois se desestabilizar novamente. Trata-se de um sistema dinâmico de equilíbrio (e desequilíbrio) destas forças naturalmente entrópicas, que tem o sacrifício como um fator fundamental de restituição da ordem. Da mesma maneira que organiza-se o mundo, ordena-se a pessoa: "Agora a gente tem que fazer uns ajustes na cabeça dela, para ficar mais arrumada", nas palavras do pai de santo. Ou, nas palavras de uma mãe de santo: "O universo tende ao caos. Só com muito ebó que a gente consegue que ele fique assim, arrumadinho."