GT 057: Religiões afro-brasileiras: dos quadros sinópticos às matrizes transformacionais
Apresentação Oral em GT
Olavo de Souza Pinto Filho
A escrita como prática ritual: uma etnografia do jogo de Ifá em Recife
Esta apresentação tem como tema central a composição dos versos de Ifá escritos pelo Alapini Paulo
Braz Ifamuiyde. Paulo Braz Felipe da Costa, é neto do famoso babalorixá recifense Felippe Sabino da
Costa, mais conhecido como Pai Adão. Ele dirige, em conjunto com sua irmã; Maria Lúcia Felipe da
Costa, o terreiro Ilè Iyemoja Ogunte, fundado em meados da década de 1970, onde zelam pelos orixás
da família. O terreiro é uma dissidência do Ilê Oba Ogunte, mais conhecido como “Sítio de Pai Adão”.
Ambos estão localizados em Água-Fria, zona norte da cidade do Recife.
Em 1997, Pai Paulo teve um infarto seguido de um acidente vascular cerebral (AVC). Seu médico lhe disse que, para ajudar em sua recuperação, era preciso ler e fazer anotações em voz alta. Um amigo, então, lhe deu um livro sobre Ifá, no qual ele lia os odus, anotando-os em um caderno. Segundo ele, “essas coisas eu já sabia, eu já tinha isso, mas quando eu li o livro, essas coisas se encaixaram, foi com isso que me curei”. Essa cura, por intermédio do aprendizado do jogo de Ifá, deu-lhe um novo nome, “Ifatóògún”, que significa: Ifá é meu remédio.
Minha incursão etnográfica atenta-se sobre os modos como Pai Paulo convencionaliza sua experiência com Ifá a partir da escrita em seus cadernos dos “recados de Ifá”, O que Pai Paulo nos ensina sobre Ifá é que o jogo, apesar de obedecer uma combinação entre as caídas dos odus e os seus significados, também incorpora, em seu corpus, a própria experiência de quem o executa. O conhecimento sobre os odus é, antes de tudo, uma experimentação. Isso impele a cada pessoa, ao aprender o manejo dos odus, compor, com sua própria experiência, os enunciados de Ifá.
Meu objetivo neste paper é imaginar uma outra abordagem analítica sobre os estudos sobre a escrita nos candomblés, a partir da minha experiência com Pai Paulo e em comparação com outros exemplos etnográficos presentes na bibliografia, que evidenciam o aspecto divinatório e até mesmo ritual, atribuídos à escrita pelos terreiros.