GT 057: Religiões afro-brasileiras: dos quadros sinópticos às matrizes transformacionais
Apresentação Oral em GT
Pedro Henrique de Oliveira Germano de Lima
A constituição místico-ritual-social da pessoa ogã no Xangô Renovado de Pernambuco
O Xangô, religião de matriz africana presente em Pernambuco, é uma religião que “constitui” pessoas num longo processo chamado de iniciação, assim ocorre no Ilê Obá Aganjú Okoloyá (IOAO), terreiro de tradição nagô do Recife e campo empírico dessa pesquisa. No IOAO o cargo de ogã é destinado aos homens que ingressam no culto com a peculiaridade – imposta pelo seu orixá – de não se manifestarem em possessão com suas divindades. Os ogãs podem ser identificados como tais por meio de determinados “dons” – também impostos pelos seus orixás – que constituem sua pessoa sagrada (independentemente do ingresso na religião), tais como os ogan’illu, quando tem o “dom” de tocar os illus/atabaques; axogum, aqueles que possuem o “dom” cortar/sacrificar animais e ogã cipá, responsável pelo cuidado com as coisas sagradas dentro do pegi. Ao ingressarem na hierarquia religiosa do IOAO os ogãs tem seus “dons” identificados pelo jogo de búzios e, a partir daí, são encaminhados aos rituais específicos que contribuem para a atualização de suas características sagradas, ou seja, os rituais atualizam as características sagradas da pessoa ogã no ambiente do terreiro. De acordo com o que foi percebido em work de campo realizado entre 2013 e 2015, a iniciação como ritual cumpre apenas com uma etapa da constituição da pessoa e não se restringe ao ritual de saída de yawô (para os “rodantes”) ou “confirmação” (no caso dos ogãs). A iniciação ritual precisa ser completada, porém nunca substituída, pela participação do fiel nos diversos rituais do terreiro (iniciação de outros irmãos, rituais do balé, rituais a Orumilá, ebós, banhos etc.). Assim sendo, destacamos neste artigo a interessante trama que existe entre o “dom” e a atualização dos “dons” pessoais pelos rituais de iniciação e pela participação que os ogãs estabelecem com/nos rituais do terreiro. A pessoa ogã do IOAO é um compósito de forças contidas em objetos, sons, lugares, performances/modos de fazer, atualizado em eventos e rituais, nos quais a participação lhes confere o reconhecimento necessário para reforçar seus “dons” individuais. A questão principal da pessoa ogã não reside no que ela é, mas no que estar para ser dentro do culto, disso entendemos que a iniciação não se resume ao ritual de “confirmação” peculiar aos ogãs, mas corresponde a todo o percurso de sua vida religiosa. Concluímos que a pessoa ogã no IOAO é constituída/instituída misticamente pelos dons (impostos pelos orixás), e ritualmente – e por isso socialmente – pela iniciação (conduzidos pelos orixás e pelo terreiro como um todo) e participação nos e com os rituais dirigidos ao seu orixá individual e, ainda, demais rituais do terreiro.