GT 057: Religiões afro-brasileiras: dos quadros sinópticos às matrizes transformacionais
Apresentação Oral em GT
Luisa Mesquita Damasceno
A aldeia e suas linhas: entre divindades, pessoas, objetos e lugares
Pretende-se com este work, socializar algumas inquietações surgidas a partir da pesquisa que vem sendo realizada junto aos membros do terreiro Oiá Mucumbi, situado no Alto da Levada, na cidade de Cachoeira/BA. Partindo de uma compreensão que entende a relação entre divindades/entidades, adeptos do candomblé, objetos e lugares sagrados como um composto de seres (humanos e não humanos) envolvidos em processos de mútua constituição e não como unidades identitárias num campo de relações, almejo apresentar neste work, a partir dos dados etnográficos já coletados, algumas questões interligadas:1) Salientar as tramas complexas de composição que se estabelecem entre os adeptos e as divindades/entidades, tomando as trajetórias religiosas individuais como locus central de análise; 2) Compreender como se conectam as diferentes “nações” (keto, angola e “linha branca”) no terreiro pesquisado, tomando como fio norteador, as relações que se estabelecem entre as várias entidades e seus filhos humanos, dado que grande parte dos adeptos com os quais conversei, “pertencem” a entidades advindas de diferentes “nações”; 3) Mapear as relações de fé e convivência com os orixás e demais entidades para além do contexto do terreiro, deslocando a atenção para o ambiente do bairro em que o terreiro está localizado e onde, predominantemente, moram seus adeptos. Para isso, pretendo tomar como foco, as relações circunvizinhas ao terreiro nas quais as divindades/entidades atuam como mediadoras, bem como observar a centralidade dos objetos consagrados aos orixás e entidades nas casas dos adeptos, atenta aos ensinamentos de meus interlocutores que, como bem me alertou um filho de santo, “a pedra (otá) por exemplo, não é somente uma pedra, como de forma geral as pessoas as entendem, mas é o coração do orixá”, e por isso deve ser entendida como um ser vivente, pulsante, e dinâmico que está em permanente relação com as divindades e as pessoas humanas. Assim, objetos, pessoas, divindades e lugares se entrelaçam no contínuo da vida, que é tecida, apoiando-me em Ingold (2015), a partir das inúmeras linhas vitais dos componentes humanos e não-humanos. Dessa forma, humanos podem figurar no contexto das pedras, assim como as pedras podem figurar no contexto dos humanos. Pretende-se também, ao olhar para a trama complexa e relacional entre divindades, pessoas, objetos e lugares suscitados pelo modo de estar e sentir a vida a partir do candomblé, reavaliar as dualidades natureza-cultura, mente-corpo, sujeito-objeto ainda muito presentes nas teorias antropológicas clássicas e contemporâneas.