Redes sociais da ABA:
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3 a 6 de agosto de 2016
João Pessoa - PB
UFPB - Campus I
GT 056: Racismo no Plural nas Américas: Situando Povos Indígenas e Afro-Indígenas
Apresentação Oral em GT
Caroline Farias Leal Mendonça
Histórias plurais e desobediência epistêmica: processos de racialização no sertão do São Francisco e a resistência indígena como aliada à formação social do quilombo-indígena Tiririca dos Crioulos
O presente work propõe uma reflexão sobre os processos de racialização que invisibilizaram identidades plurais no sertão do São Francisco pernambucano e a insurgência destas identidades no século XXI. Apresenta uma pesquisa etnográfica com o povo indígena Pankará e o quilombo-indígena Tiririca dos Crioulos, os quais tomam por território tradicional a Serra do Arapuá, localizada no município de Carnaubeira da Penha. No final do século XIX, o território já estava todo ocupado pela elite agrária deste sertão que é beneficiada pela Lei de Terras (Lei nº 601/1850). Entre os anos de 1940 e 1960, os indígenas Pacará desencadeiam um processo de luta junto ao Estado brasileiro para terem os direitos territoriais garantidos. Não foram atendidos e desde então passam a ser vítimas de violências sequenciais, que culminou com o banimento de um dos seus principais líderes na década de 1970, e o banimento de toda a comunidade da aldeia Massapé, em 1998. O Estado brasileiro nunca tomou providências quanto a estes atos racistas e etnocidas promovidos pelos tradicionais invasores da terra indígena e quilombola. Neste mesmo período, a comunidade afro-indígena Tiririca vivenciava, de modo semelhante, inúmeros ataques ao seu território e violências racistas que produziram distinções perversas na região, negando a humanidade de seus membros, e com isto, a justificativa para o espólio territorial. O século XX é marcado pela resistência deste povo indígena e negro em permanecer no território. Para tal feito, os Pankará estabelecem uma variada rede de articulação política, de parentesco e ritual interna e com o quilombo Tiririca. A partir da análise deste processo histórico, o presente artigo aborda a insurgência política contemporânea do povo Pankará e do quilombo-indígena que aponta para a construção de um projeto societário dirigido a modos “outros” de saber, de ser e de viver. Um projeto que visa restituir a vida e a liberdade a partir da desobediência política e epistêmica em um território até então controlado pela violência e o racismo, promovendo o enfrentamento ao processo histórico de subalternização e invisibilidade por meio da racialização imposta. Este work é resultado da tese de doutoramento que teve como principais objetivos identificar o que são os conteúdos éticos, políticos e epistêmicos do projeto societário em construção; observar como este projeto articula e mobiliza a luta pelo território e a garantia de direitos; demonstrar como as práticas cotidianas descoloniais vão dando corpo e tessitura à vida pluriétnica localizada nesse território tradicional que é a Serra do Arapuá.