Redes sociais da ABA:
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3 a 6 de agosto de 2016
João Pessoa - PB
UFPB - Campus I
GT 056: Racismo no Plural nas Américas: Situando Povos Indígenas e Afro-Indígenas
Apresentação Oral em GT
Paula Berbert Ferreira Albino
A Guarda Rural Indígena entre os Maxakali: questões sobre as perspectivas tikmu'un e as perspectivas dos agentes do poder tutelar
O advento Guarda Rural Indígena (GRIN) – destacamento da Polícia Militar de Minas Gerais, fundado em 1969, composto por 97 índios de origens diversas – nos remete à história do esbulho das terras tradicionais dos Tikmu'un, conhecido pelo etnônimo Maxakali. Depois de mais de dois séculos de conflitos intensos com membros da sociedade nacional, os Maxakali tiveram suas terras finalmente demarcadas pelo SPI em 1940, momento em que sua população se via reduzida a menos de uma centena de indivíduos, o que não impediu que permanecessem falando sua língua (Maxakali, do tronco Macro-Jê) e mantivessem vivos sua organização social e seu complexo mítico-sonoro. A área demarcada, contudo, não incluiu a totalidade da área ocupada pelas aldeias da região, deixando a terra indígena dividida por um corredor de fazendas de mais de 12 km, o que fez surgir novos conflitos entre os índios e os invasores de seu território tradicional. Diante da dificuldade em resolver a contento os conflitos que aconteciam ali e em outras regiões do estado, em 1965, o SPI e o governo de Minas Gerais firmaram um convênio, posteriormente mantido pela FUNAI, para otimizar a gerência de seus postos indígenas. Para tanto criaram a Ajudância Minas-Bahia e nomearam o então capitão da PMMG, Manoel dos Santos Pinheiro, para a sua administração. Depois de instalar patrulhas policiais dentro da terra maxakali e perceber que a “pacificação” da área seria mais eficiente se a vigilância fosse conformada a partir de elementos recrutados entre os próprios índios, o Capitão Pinheiro recomendou à presidência da FUNAI que estendesse a experiência com os Tikmu'un, conformando uma guarda indígena de caráter nacional, com dedicação exclusiva ao work policial, custeado pela FUNAI e treinado pela Polícia Militar de Minas Gerais. O objetivo desta comunicação é apresentar os resultados parciais de minha pesquisa em andamento que, em linhas gerais, pretende compreender o ponto de vista maxakali sobre a história da GRIN, explorando a polissemia deste evento histórico que confronta as perspectivas tikmu'un, de um lado, às perspectivas dos agentes do poder tutelar, de outro. Buscarei compartilhar as primeiras reflexões feitas a partir de uma breve incursão em campo, da revisão da bibliografia etnográfica, e, particularmente, da análise de documentos do SPI, FUNAI e PMMG e de reportagens da época. A apreciação inicial destas fontes documentais revela que a história da Guarda expressa de maneira sui generis o conteúdo assimilacionista (racista?) dos discursos e práticas do Estado brasileiro, em que a indigenidade era vista como uma qualidade transitória dos povos originários passível de superação a partir da inserção em atividades produtivas e da adesão aos ideais nacionalistas propagandeados pelo Regime Militar.