GT 005: Antropologia da Criança
Apresentação Oral em GT
Rogerio Correia da Silva, Erica DUMONT-PENA
Educação e Cuidados das Crianças Pequenas Xakriabá: Entre Anjinhos e Calunduns.
O presente texto propõe caracterizar a infância das crianças pequenas do grupo indígena Xakriabá. Em torno de 9 mil indivíduos, os Xakriabá habitam a região norte de Minas Gerais, município de São João das Missões. Do nascimento aos 6 anos, a educação das crianças Xacriabá, ocorre a maior parte do tempo em seu grupo doméstico, no ambiente da casa. É exercida principalmente pelas mulheres e pelas crianças maiores, marcada pelos cuidados com seu alimentar, sua limpeza, no acompanhar e no intervir em seu desenvolvimento, na realização de brincadeiras e na manutenção da sua saúde. Ao caracterizarmos o lugar da criança nesta sociedade analisamos as práticas de educação e cuidados embasados pela discussão sobre a noção de pessoa e fabricação do corpo, tema bastante recorrente nos estudos sobre crianças indígenas (COHN, 2002, 2013; TASSINARI, 2007). Caracterizamos assim tais práticas a partir da ideia de técnicas de cuidado corporal (DUMONT-PENA, 2015). As orientações quanto as práticas de alimentação próprias a idade, os banhos, as massagens e simpatias tendo as crianças como centro das atenções nos revelam as noções do grupo sobre o seu desenvolvimento, frente ao ideal de corpo belo e saudável. Um segundo ponto a ser abordado diz respeito as imagens e representações ambíguas que circulam sobre as crianças pequenas. A primeira que analisamos é a imagem da criança-anjo ou, simplesmente “anjinho”. Podemos identifica-las em duas práticas: “a festa dos anjinhos” (culto da Virgem Maria) e o ritual de sepultamento das crianças pequenas. Tal imagem nos conecta àquela criada pela igreja católica e difundida no Brasil desde o período colonial (DEL PRIORE, 1991), e que persiste também em outras regiões, como no nordeste brasileiro (SANTOS, 2014). Em contraponto ao anjinho e seu significado de pureza e inocência, duas outras expressões revelam a percepção do grupo para o comportamento infantil: “malinar” e “bestar”. Estas, sintetizam a imagem do menino que faz maldades, curioso e voluntarioso e que muito longe da figura angelical, pode deixar de ser humano, por adotar o ócio como forma de vida. Tais representações e práticas atestam a forte influência da religião católica nas práticas cotidianas da educação das crianças. Por fim, trabalhar com grupo indígena do sertão mineiro nos traz alguns desafios e contribuições, a saber: considerar mais atentamente as relações entre infância e religião (PIRES, 2011); ampliar a discussão sobre corporalidade e infância a outros grupos não-indígenas; buscar uma literatura que analise os processos históricos de trocas, mudanças e apropriações; problematizar a noção de infância utilizada para definir a vida das crianças não só de grupos como Xakriabá mas também de outras populações do campo.