GT 037: Indígenas, Quilombolas e outros Povos e Comunidades Tradicionais em Situações Urbanas: identidades, territórios e conflitos.
Apresentação Oral em GT
Michely Aline Jorge Espíndola
Racismo: uma das “coisas de ser índio na cidade”
As abordagens antropológicas sobre a questão indígena assumem dimensões multifacetárias, todavia, o predomínio de estudar índios nas aldeias localizadas nas terras indígenas, demarcadas ou não, é uma das vertentes fortes da antropologia brasileira, seja para analisar aspectos culturais, ou para analisar a relação de contato desses índios com o estado nacional. Nessa configuração, as questões de índios no contexto urbano também dentro da literatura antropológica passaram a ganhar destaque. Muitos têm sido os caminhos metodológicos, que ao final, independente das tendências, tem servido para aproximar áreas antes pouco comunicáveis, como os campos das etnologias e dos estudos urbanos. Nesse sentido, faço uma reflexão sobre a presença indígena no contexto urbano da cidade de Campo Grande-MS. O objetivo principal da pesquisa (realizada para o mestrado, 2013) foi fomentar uma discussão em torno de alguns eixos, dentre eles, juventude indígena - etnia Terena, política - movimento indígena - e racismo. Contudo, para o presente evento, através de algumas trajetórias de jovens terena, enfoco a problemática do racismo no contexto urbano de Campo Grande que, segundo meus interlocutores, é uma das “coisas de ser índio na cidade”. Estamos diante de um racismo de feição fenotípica (mas não só, também cultural), dentro do qual alguns sujeitos são imediatamente rotulados (Goffman, 1975) enquanto outros podem empreender jogos identitários, passando por não-índios em certos espaços públicos. Embora haja o racismo pela “aparência de índio”, ou seja, uma “categoria discursiva em torno da qual se organiza um sistema de poder socioeconômico de exploração e exclusão” (Hall, 2003), e diversas formas de preconceito, a “transfiguração em bugre” (e em tudo o que isso significa), não é o resumo “típico” das trajetórias terena, pois cada um tem sua própria vivência do preconceito. Diante dessa violência que não é somente simbólica, várias são as estratégias utilizadas por esses indígenas para a ocupação do meio urbano e auto-defesa contra o racismo e a discriminação. Um exemplo é a negação da sua indianidade ou a reclusão em suas áreas de moradia. Importante lembrar que o racismo nesse contexto é pautado de imediato na percepção de uma aparência que é tida como a “de índio”, de “bugre”; e em um segundo momento, para o caso daqueles que não aparentam fenotipicamente uma indianidade, e que se afirmam como indígenas, o racismo se desloca da aparência física para a questão étnica, para a distinção cultural, quando agressões se expressam em ideias de que “o lugar do índio não é na cidade”, que índio é “preguiçoso”... Contudo, seja como for, o preconceito e o racismo não impedem que, de uma maneira ou de outra, os Terena conquistem espaços e façam usos dos equipamentos urbanos.