Redes sociais da ABA:
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3 a 6 de agosto de 2016
João Pessoa - PB
UFPB - Campus I
GT 037: Indígenas, Quilombolas e outros Povos e Comunidades Tradicionais em Situações Urbanas: identidades, territórios e conflitos.
Apresentação Oral em GT
Sandra Carolina Portela Garcia, Não há coautores
Invisíveis, vulneráveis e empodeiradas: As mulheres Guarani e a venda do artesanato no centro de Florianópolis
Na cidade de Florianópolis (SC) , existem diferentes maneiras em que a população indígena, que circula e permanece na região, apropria-se e se relaciona com o espaço urbano da cidade, desenvolvendo cotidianamente diversas atividades econômicas, de sociabilidade, etc. Nesta comunicação, e a partir de minhas experiências com as mulheres Guarani, que têm na produção e venda do artesanato uma forma contínua e contundente de se relacionar com a cidade, pretendo descrever algumas situações cotidianas, experiências, perspectivas, trajetos e discursos tecidos por elas sobre a cidade e seus habitantes. Como ponto de contraste, observaremos também como os não-índios que, de algum modo, mantêm algum tipo de relacionamento com elas — seja pelo reconhecimento seja pela rejeição — evidenciam uma série de perspectivas sobre a presença dessas mulheres que refletem “imagens” e noções do “índio”, que são permanentemente reforçadas, por exemplo, nas mídias locais e nos discursos políticos, e que trazem à tona a idéia do indígena como um ser culturalmente diferente (com ênfase no campo visual) e geograficamente distante, quando não inexistente na cidade de Florianópolis. No desenvolvimento deste texto, observa-se, pouco a pouco, como se torna paradoxal o fato de que, quanto mais a população local consegue “visualizar” e reconhecer a “indianidade” dessas mulheres, mais esse mesmo reconhecimento submerge-as em uma gama de situações, em que a ideia do “bom selvagem” e o “mau selvagem”, por assim dizer, confluem, se misturam, se encontram e desencontram, submetendo-as a vários preconceitos, nos quais sua presença termina sendo examinada como um problema, uma anomalia que deveria ser corrigida . De outro lado, e a partir da perspectiva das mulheres indígenas que circulam no local, observamos que há uma outra e vasta gama de leituras sobre o seu que fazer no centro da cidade, e aparecem uma serie de objetivos e interesses que são perseguidos por elas a partir do desenvolvimento de estratégias que lhes permitem navegar entre as diferentes concepções e discursos que constantemente escutam dos “brancos”, que também circulam nos mesmos espaços. Nota-se, assim, sua capacidade de lidar com situações diferentes, de apropriar-se de estratégias para reafirmar seu espaço e identidade, de atrair aquilo que tem sido incorporado do mundo dos juruá e que possui algum significado ou exerce um papel importante no cotidiano da sua vida nas aldeias, e finalmente, de empoderamento, ao conseguir negociar e lidar com a assimetria constante que pressupõe a situação de contato na qual se encontram em relação à sociedade envolvente que enfrentam todo dia, sentadas nas calçadas, expondo seu artesanato e esperando um troquinho.