Redes sociais da ABA:
Logo da 30ª Reunião Brasileira de Antropologia
3 a 6 de agosto de 2016
João Pessoa - PB
UFPB - Campus I
GT 037: Indígenas, Quilombolas e outros Povos e Comunidades Tradicionais em Situações Urbanas: identidades, territórios e conflitos.
Apresentação Oral em GT
Rachel Cristina de Oliveira
Arturos e o Território da Diferença: Organização Comunitária para Mediação e Desenvolvimento Local
O work que aqui apresento é resultado de uma pesquisa realizada na Comunidade dos Arturos, em que busco descrever o modo como se organizam para o acesso a políticas públicas, tendo em vista o protagonismo que assume a cultura nas últimas décadas e a modificação dos limites entre cultura e economia. O que deslocou para o centro da agenda política governamental a necessidade de respeito e proteção da diversidade cultural. Abordo alguns marcos normativos das políticas identitárias, cujo discurso de reparação a grupos negligenciados se mistura ao discurso de garantia da diversidade cultural, fomentado por agências internacionais. Neste sentido, a Comunidade dos Arturos tem adquirido notoriedade nesse acesso em relação a outras comunidades, não só em função da forma como se organizam as lideranças para se protegerem de uma exposição excessiva, provocada pelo crescente interesse de atores diversos, como pela maneira como vem tentando capitalizar essa posição de destaque que adquiriram. A Comunidade dos Arturos está localizada no bairro Jardim Vera Cruz no município de Contagem/MG, região convergente de grandes indústrias desde a década de 1940. Seus membros, são descentes de Arthur Camilo Silvério e Dona Carmelinda, que além da propriedade sítio Domingos Pereira, herdaram também a tradição do Reinado. A comunidade se urbanizou à medida que cresceu a cidade, guardando, no entanto, resquícios de uma vida rural pregressa. Ao longo do tempo, conquistaram os Arturos notoriedade tanto para outras comunidades como para órgãos estatais, tornando-se referência para a proposição de políticas quilombolas não só em Minas Gerais, como no Brasil. Neste sentido, para observar a agência de diferentes atores e instituições, acompanhei os registros municipal e estadual dos Arturos como Patrimônio Cultural Imaterial, que atualmente pauta internamente discussões acerca do plano de salvaguarda e da regularização fundiária. Observei que o aumento do protagonismo dos Arturos se deu a partir de suas próprias estruturas tradicionais, em que a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Contagem - elemento constituinte do Reinado – apresentou-se como uma oportunidade de fortalecimento de suas próprias lideranças e possibilidade de acesso às políticas, em função da sua adequação ao perfil jurídico exigido a proponentes de projetos em editais públicos. A Irmandade antes geridas por brancos, fiéis da igreja católica, passou a agir como mediadora da comunidade, passando a se integrar à família dos Arturos a partir da década de 1970. Embora ainda não fosse comandada pelos descendentes diretos de Seu Arthur, desempenhava um papel de proteção dos elementos sagrados de suas manifestações e apresentava, ainda, um perfil jurídico adequado para o acesso às políticas.