GT 037: Indígenas, Quilombolas e outros Povos e Comunidades Tradicionais em Situações Urbanas: identidades, territórios e conflitos.
Apresentação Oral em GT
Carolina Lima Miranda, Luciana de Oliveira Dias
A comunidade indígena Santuário Tapuya dos Pajés na cidade de Brasília: retóricas de resistência e reciprocidade no movimento “O Santuário Não Se Move!”
O presente work faz parte de uma investigação mais abrangente que examina, sob a ótica do pluralismo jurídico latino-americano, as estratégias práticas e discursivas do projeto de resistência da comunidade indígena Santuário Tapuya dos Pajés, em Brasília, no âmbito de sua luta por reconhecimento, frente a ameaça que esta enfrenta nos últimos dez anos (2006-2016), em face da construção de um bairro nobre na mesma localidade – o Setor Habitacional Noroeste. Assim, dentro dos limites deste artigo, pretendemos analisar as construções políticas e simbólicas articuladas em seu peculiar espaço urbano de luta, detendo-nos particularmente nas suas falas elaboradas para fora, direcionadas para brancos e enunciadas no contexto de seu movimento "O Santuário Não Se Move!". Desta forma, buscamos compreender como estas falas visam provocar, relacionalmente, práticas de alteridade capazes de vincular sensibilidades e intensificar regimes coletivos de reciprocidade. Para além desta dimensão comunicativa, propomos-nos também a explorar a substância do sagrado enquanto experiência vivida por esta comunidade e ponto nodal de sua ética de resistência. A demonstrada incomensurabilidade entre seu mundo sacralizado e o mundo profano de seu entorno urbano desafia os nossos próprios esforços de antropologização, razão pela qual apontamos para possíveis formas interpretativas alternativas – sensíveis e poéticas – para exibir esta não-equivalência; reconhecendo, por fim, sua práxis libertária de construção de direitos, segundo a perspectiva decolonial e pluralista do pensamento latino-americano.