GT 011: Antropologia do Cinema: entre narrativas, políticas e poéticas
Apresentação Oral em GT
Bianca Salles Pires
Etnografia no cinema: as salas escuras como palco de sociabilidades, subjetividades e afetividades.
Neste ensaio, pretendo apresentar e analisar as opções metodológicas para a realização das etnografias junto aos públicos de cinemas. Tendo como material as pesquisas realizadas com os frequentadores das salas no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro, nos anos de 2007, 2008, 2011 e 2012; a direção do curta-metragem Estreias (2013); e dos públicos do Festival de Cinema do Rio e Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2015. Propor uma etnografia nos espaços dos cinemas que incluísse o tempo de espera e a imersão na sala escura, cuja temporalidade é a do filme, me colocou algumas questões metodológicas importantes, tais como: os públicos são fluidos e não formavam, a priori, um grupo único que eu pudesse acompanhar; as relações com as obras são marcadas por expectativas partilhadas e experiências individualizadas, cuja sala escura só permite observar em parte; o quanto os cheiros, sons, gestos (como possuir bilhetes de entrada/passaportes/credenciais) e as redes de sociabilidades que se tecem durante os eventos nos dizem sobre os sentidos de estar lá, vendo e sendo vistos, e dá própria relação com a obra assistida. Entre as metodologias utilizadas, contei com a realização do filme etnográfico Estreias (2013), que acompanhou as expectativas dos públicos pouco antes de entrarem nas salas de exibição. O uso do recurso audiovisual trouxe novas questões para a pesquisa, quanto às captações: que expunham os limites e dificuldades das entrevistas com crianças e jovens, a relação com a câmera e suas possibilidades de enquadramentos, o tempo dos eventos acompanhados e como representá-los em imagens; e do processo de montagem: que recursos cinematográficos utilizar, os limites diante do que havíamos captado, o porquê das escolhas na finalização. Adotado como um recurso heurístico, junto ao texto escrito, o curta-metragem revela nuances que quando expressas em imagens sugerem novas questões aos estudos da recepção, que atualmente incluem o partilhar das experiências como o uso de internet móvel. Neste sentido os espaços dos cinemas e os filmes tornaram-se ambientes para a observação das subjetividades e afetividades que os indivíduos estabelecem com as obras cinematográficas, as diferentes opções metodológicas nos permitem apresentar alguns aspectos relevantes ao se propor uma etnografia no cinema.