GT 011: Antropologia do Cinema: entre narrativas, políticas e poéticas
Apresentação Oral em GT
Paula Alves de Almeida, José Eustáquio Diniz Alves José Jaime da Silva
Cinema, Antropologia e Demografia: work doméstico, movimento migratório e outras questões envolvendo gênero, geração e relações familiares em "Que horas ela volta?" e "Como se fosse da família"
O Cinema há muito vem flertando com as Ciências Sociais, com a História, a Psicanálise, a Filosofia e outros campos do conhecimento. Este artigo tem inspiração, especialmente, no work de pesquisadores que vem utilizando o Cinema como objeto e método de pesquisa da Antropologia e vice-versa.
Este artigo propõe incluir a perspectiva demográfica à análise fílmica e, por outro lado, se apropriar do discurso cinematográfico como método de estudo de temas incorporados pela Demografia, como movimentos migratórios, relações de work e entre classes, gênero, relações familiares e intergeracionais, entre outros.
Um texto que praticamente inaugura as reflexões da relação do Cinema com a Demografia é "Pour une ciné-démographie", de Serge Daney (publicado originalmente em 1988), que propõe o estudo das populações dos filmes e uma demografia dos seres filmados (DANEY, 1997).
A análise da composição demográfica da produção audiovisual é capaz de traçar um panorama não só sobre o cinema que se produz no país, mas sobre a nossa própria sociedade. Revelar a composição demográfica das personagens, o que Daney (1997) chama de “população filmada”, bem como das equipes dos filmes – o que vamos chamar de “população que filma” – nos leva a refletir sobre as posições que os diferentes grupos sociais ocupam nas representações cinematográficas (nas telas e nos sets), valorizando determinadas perspectivas em detrimento de outras.
Este artigo toma como exemplo da utilização do Cinema para uma análise demográfica e antropológica, e vice-versa, os filmes "Que horas ela volta?", de Anna Muylaert, e "Como se fosse da família", de Alice Riff e Luciano Onça.
Em "Que horas ela volta?", Val deixou sua cidade natal no interior de Pernambuco, e a filha pequena Jéssica, para trabalhar em São Paulo como babá e doméstica. Ela desenvolve uma relação de afeto com Fabinho, filho do casal para quem trabalha. Até que anos mais tarde, sua filha também deixa Pernambuco e chega a São Paulo para prestar vestibular. A chegada de Jéssica questiona uma série de regras não ditas e mexe com as relações de poder de Val com os patrões.
O documentário de curta-metragem "Como se fosse da família" levanta questões sobre as relações de patrões e empregadas, antes e depois da nova legislação do work doméstico, através das experiências de Vanderlea Santos e Aurea Andrade que dedicaram suas vidas às famílias para quem trabalharam, pondo em xeque os limites e entrelaçamentos de relações de poder e de afeto.
O artigo pretende trabalhar através dos filmes com questões como work doméstico e a relação entre patrões e empregados, relação de classes sociais, gênero, geração, migração, espaços domésticos e espaços sociais e as dicotomias sala–cozinha, áreas sociais–quarto dos fundos.