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3 a 6 de agosto de 2016
João Pessoa - PB
UFPB - Campus I
GT 011: Antropologia do Cinema: entre narrativas, políticas e poéticas
Apresentação Oral em GT
Gheysa Lemes Gonçalves Gama
Central do Brasil: um estudo sobre a mudança na utilização alegórica da estrada nos road movies brasileiros a partir das críticas cinematográficas tecidas sobre o filme
Este artigo pretende explicitar a mudança na utilização alegórica da estrada nos road movies brasileiros, adotando como objeto de estudo as críticas tecidas à obra Central do Brasil (Salles, 1998), à época de seu lançamento. O gênero filme de estrada é composto por películas cujo enredo está centralizado numa situação de deslocamento dos protagonistas. Verifica-se, no entanto, que a estrada é representada não apenas enquanto cenário físico, mas também como figura simbólica, cujas significações variam de acordo com a época e discussões em voga em nossa sociedade. Ao se analisar os filmes brasileiros que compõem este gênero é possível observar a mudança no papel alegórico assumido pela estrada, antes e depois da época conhecida como Retomada do Cinema Nacional (a partir de 1995). Se antes da Retomada os road movies produzidos no Brasil apresentavam a estrada como alegoria da nação e os personagens, alegorias do povo brasileiro, há uma mudança considerável nos filmes de estrada lançados posteriormente, nos quais a estrada assume a alegoria do rito de passagem, onde os protagonistas, ao lançarem-se na jornada física, acabam por enfrentar, no caminho, seus próprios dilemas pessoais, emergindo transformados, ao fim da viagem. O filme que inaugura essa nova fase do road movie brasileiro é Central do Brasil (Salles, 1998), sendo que a estrada, pela primeira vez, surge como um palco para a transformação pessoal, diferente dos filmes pregressos, nos quais a estrada servia, especialmente, para a exposição de críticas sociais e políticas ao país. Essa premissa é confirmada pelo próprio diretor da película ao afirmar: “são os conflitos internos das personagens que definem os filmes” (SALLES apud STREECKER, 2010, p. 252-253). Sendo assim, o objetivo deste artigo é expor essa mudança no uso da alegoria da estrada, a partir da apresentação e análise de algumas críticas que foram tecidas à época do lançamento de Central do Brasil. Como base de pesquisa, utilizaremos material de arquivo colhido na Cinemateca Nacional, buscando analisar como os críticos – autores de jornais e revistas acadêmicas - assimilaram essa mudança de perspectiva, resultando, muitas vezes, em críticas negativas, já que o filme deixava de dar ênfase à discussão do nacional, para colocar ao centro a história de Dora e Josué. Assim, busca-se compreender como Central do Brasil foi significativo, pois inaugura uma nova fase do road movie brasileiro, dotando a estrada de novos sentidos que serão, a partir deste filme, seguidas também por outros filmes de estradas lançados no país. A ideia de ouvir as vozes dos críticos da época reforça esse argumento da mudança, gerando controvérsias, mas que por fim, sinalizam para um novo cenário do cinema nacional.