GT 011: Antropologia do Cinema: entre narrativas, políticas e poéticas
Apresentação Oral em GT
Vitáli Marques Corrêa da Silva
Articulações entre cinema, Estado e mercado: a produção de longa-metragens no Rio Grande do Sul
O Rio Grande do Sul se apresenta como um estado com alguma relevância em matéria de produção cinematográfica nacional, ainda que bastante atrás do eixo central. Em termos numéricos, excetuando-se Rio de Janeiro e São Paulo, ele é o estado com maior número de títulos de longas metragens lançados comercialmente para o período 1995-2014, com 53 filmes. Neste work, exploro parte de questões que integram meu projeto de dissertação de Mestrado em Antropologia acerca da cena de produção cinematográfica porto-alegrense. Em face da variedade de formas e modalidades de fazer cinema, optei desde antemão enfocar realizadores de longas-metragens, já que a produção de curtas no país é descentralizada e exige menos articulações de redes para sua viabilidade. Por outro lado, a produção de longas-metragens tende a levar anos até o lançamento do produto final no mercado, o que resulta num processo de sobreposição da esfera estatal, mercadológica e artístico-cultural. Durante as etapas desse processo, diversos agentes sociais são necessários para a concretização do projeto, entre eles, diretores, roteiristas, produtores e demais membros da equipe técnica por um lado; por outro, agentes do mercado, tais como distribuidores, empresas privadas financiadoras e exibidoras, além da presença do Estado por meio de editais e legislações reguladoras do setor. Diante da complexidade das redes estabelecidas, algumas perguntas são levantadas: como ocorrem as relações e as negociações entre os membros da esfera “cultural” – os cineastas gaúchos, no nosso caso – com as esferas estatais e mercantis, num contexto de produção fora do eixo Rio-São Paulo? De que forma os criadores veem o mercado e o Estado? Como entendem o impacto destes sobre a “autonomia” artística e a questão autoral? Este work enfatizará o ponto de vista dos cineastas acercas desses questionamentos. Tendo como ponto de partida a discussão teórica de Bourdieu sobre o mercado de bens simbólicos, realizei entrevistas abertas com alguns realizadores gaúchos, residentes em Porto Alegre, de status e gerações distintos para compreender suas visões a respeito da produção cinematográfica com respeito à interface com o Estado e o mercado. O work aponta para questões que devem ser aprofundadas no concernente às negociações feitas para a viabilização desse artefato cultural, que é o filme.