Redes sociais da ABA:
Logo da 30ª Reunião Brasileira de Antropologia
3 a 6 de agosto de 2016
João Pessoa - PB
UFPB - Campus I
GT 005: Antropologia da Criança
Apresentação Oral em GT
Deiziane Pinheiro Aguiar
Entre brincadeiras, silêncios e conversações: interagindo no campo com crianças numa favela à beira-mar em Fortaleza
O objetivo deste paper é descrever e problematizar a construção de um acesso etnográfico com crianças moradoras de uma favela à beira-mar em Fortaleza. Desde que iniciei etnografia com crianças, em 2014, tenho me questionado sobre como elaborar a inserção com esses sujeitos sociais. Atualmente, estou acompanhando uma família que perdeu um jovem chacinado-Sérgio,22 anos- em agosto de 2015 no Serviluz, no segmento da Estiva, área de conflito armado classificada localmente como uma das mais bem armadas e com o “comando” de tráfico mais organizado e equipado. A mãe e os três irmãos do jovem presenciaram a execução dentro de casa. Rosa(8 anos), Eduardo(11 anos) e Carlos(12 anos) relataram suas lembranças, saudades e possibilidades de um futuro distinto do irmão assassinado, que era reconhecido como estando envolvido no crime. Rosa é a que mais se expressa sobre isso, narrando as brincadeiras que tinha com Sérgio e não crê no evento: “Eu me belisquei para saber se era verdade”. Eduardo raramente se manifesta, quase sempre em silêncio quando a família comenta sobre o fato. Carlos problematiza a questão num outro aspecto: “O crime não compensa, o crime é mau”. Foi nesse contexto de interação que duas ferramentas metodológicas foram sendo elaboradas: a brincadeira e a conversação com as crianças. Na busca de acessar seus modos de falar, silêncios e manifestações em situações de perda por violência letal e de esgarçamento da rede de relações sociais, mas também do laço parental. Ao me dispor a escutar, brincar e conversar com as crianças, seja na casa dos três irmãos ou em outros espaços da favela, além da interação com outras crianças de sua vicinalidade, que venho construindo meu campo, ampliando a compreensão dos eventos críticos ocorridos cotidianamente no Serviluz. A brincadeira, que pode ser pensada alternadamente como objeto e metodologia, facilita a aproximação com as crianças e também permite compreender como elas pensam as situações dos ameaçados de morte a partir de suas práticas narrativas. A brincadeira tornou-se recurso sério para a pesquisa do ponto de vista metodológico e também das condições existenciais, intersubjetivas, de convívio humano em campo. Na conversação, utilizo duas maneiras de trabalhar, as registradas por um gravador de voz ou as livres (ambas conversas informais). A convergência entre brincadeira e conversação tem possibilitado uma ampliação da experiência de campo, principalmente, no que tange à construção do difícil acesso aos eventos críticos de violência letal sofrido e presenciado pelos sujeitos. Os discursos com seus silêncios e as práticas socioculturais das crianças, como avaliam os eventos e como tais situações influenciam no imaginário infantil são os elementos principais da análise da agência simbólica e moral delas.
Palavras-chave: Etnografia; Crianças; Violência.