GT 005: Antropologia da Criança
Apresentação Oral em GT
Betânia Mueller
Contribuições e desafios metodológicos da pesquisa com crianças: reminiscências de uma etnografia em uma comunidade de Niterói - RJ
Esse work é um recorte de minha pesquisa de Mestrado em Antropologia na Universidade Federal Fluminense, uma pesquisa etnográfica de cerca de um ano junto a um projeto social no Morro da Boa Vista, Niterói – RJ. O projeto tinha como objetivo prevenir o envolvimento das crianças e adolescentes com atividades ilícitas, como o tráfico de drogas, bastante presente entre os jovens da comunidade. Nesse sentido, apesar de ser iniciativa dos próprios moradores, o projeto reproduzia um conhecido discurso moralizante sobre a necessidade de “tirar os jovens da rua” e dos jovens de contextos periféricos como “futuros criminosos”. Sua principal atividade era o ensino e prática da arte marcial Jiu Jitsu, e seu fundador era membro de uma pequena igreja evangélica local, tendo o projeto também um forte viés religioso. Meu objetivo desde o início foi me aproximar dos jovens, sobretudo das crianças, considerando-as sujeitos ainda pouco valorizados na Antropologia, conforme ilustra bem o artigo denominado “por que os antropólogos não gostam de crianças?” (HIRSHFELD, 2002). Assim, busquei conhecer seus próprios pontos de vista sobre o contexto a sua volta, incluindo questões relativas ao esporte, à desigualdade social, ao tráfico de drogas, polícia e conflitos decorrentes, além de questões relativas à gênero e relacionamentos afetivos. Após iniciar com a técnica da observação direta, decidi praticar a observação participante, treinando junto com elas, o que fez com que eu pudesse me aproximar de forma mais intensa. Segundo Cohn (2002), a observação participante é uma alternativa enriquecedora nesse empreendimento, por permitir uma interação direta com as crianças, tratando-as em condições de igualdade. Além disso, utilizei outras técnicas como a confecção de desenhos e registros fotográficos. Durante toda a pesquisa, busquei analisar os assuntos que surgissem espontaneamente, evitando introduzir meus temas de interesse, ou fazendo-o de forma cuidadosa, dando espaço para respostas mais autênticas. Afinal, como bem observa Szulc (2006), é preciso estar atento para o fato de que as crianças também são capazes de mentir, de dizer o que queremos ouvir, tendo cuidado para não naturalizar a concepção contemporânea a respeito da pureza infantil. Nesse work abordarei questões referentes a assimetria pesquisadora/crianças - incluindo o fator geracional, de origem e classe social -, o ponto de vista das crianças sobre diversas questões, narrando alguns envolvimentos e suas delicadezas, desafios éticos e metodológicos, além de problematizar diferentes concepções de infância. Apesar dos desafios, considero minha experiência enriquecedora para o campo de estudos da Antropologia da Crianças, em expansão no Brasil.
Palavras-chave: Etnografia; Crianças; Comunidade;