Redes sociais da ABA:
GT 057. Processos e dinâmicas no ciberespaço: divergências, dissidências, usos e contra-usos em relação à experiência de si
Apresentação Oral em GT
Giórgia de Aquino Neiva
“Vamos Sair do Bolo com a Nave Ace” – Notas Etnográficas sobre Visibilidade Política da e na Assexualidade no Ciberespaço
Há grupos de pessoas, cada vez mais expressivos e numerosos no ciberespaço, que se autoidentificam como assexuais (categoria êmica para se referir à orientação sexual chamada assexualidade e que significa, em linhas gerais, pessoas que não tem interesse de praticar relações sexuais com outrem) e se organizam na internet em fóruns, blogues e mídias sociais com o propósito de construírem conhecimentos sobre assexualidade, adquirirem visibilidade política e conquistarem despatologização do termo nas áreas médicas, pois a falta de interesse sexual os colocam automaticamente na lista dos distúrbios sexuais, de acordo com a bibliografia especializada da assexualidade no que se à medicina – que confere anormalidade ao tema, especialmente porque se baseia em padronizações hegemônicas. A patologização sexual serve para impor um modelo único de vida, hegemônico e heterossexual, acarretando consequências sociais para quem não se enquadra nesse modelo, uma vez que os corpos sexuais e assexuais estão inseridos em processos históricos de classificação, intervenção e significação. Dessa forma, o objetivo desse work é refletir uma das questões que desenvolvo no curso de Doutorado em minha pesquisa sobre movimento político da e na assexualidade em ciberespaços. A internet é o grande palco no que se refere à política de visibilidade entre assexuais, posto que desde o início dos anos 2000 com a criação da Rede de Visibilidade e Educação sobre Assexualidade (AVEN - Asexuality Visibility and Education Network), nos Estados Unidos, outros fóruns foram abertos para a fomentação do debate e as dinâmicas políticas e identitárias dessa orientação sexual. No entanto, o fato das pessoas assexuais se organizarem em grupos via internet, especialmente por causa da facilidade em unir, reunir e debater ideias em comum, programar encontros presenciais, encontrar pares, desabafar anonimamente, adquirir e produzir conhecimentos, não determina que a identidade seja vivida apenas no virtual. Por isso mesmo que o campo internético tem sido fortuito para essas “saídas do bolo”. “Sair do bolo”, dessa maneira, é um termo cotidiano entre interlocutores e interlocutoras que mantive contato constante e está intimamente ligado ao termo sair do armário, tão bem dissertado por Sedgwick (2007) em A Epistemologia do Armário. Sendo assim, as questões que coloco para essa reflexão são: esse movimento social tem conseguido ressignificar o sentido de patologização dado pelas áreas médicas com o ativismo realizado no ciberespaço? Como acontece esse ativismo no ciberespaço? E, por fim, como é agenciado por eles e elas a “saída do bolo” em espaços online e offline?