Redes sociais da ABA:
GT 057. Processos e dinâmicas no ciberespaço: divergências, dissidências, usos e contra-usos em relação à experiência de si
Apresentação Oral em GT
Fernanda Cristina Ferreira Nunes
“Tour pelo meu corpo”: narrativas de mulheres com deficiência no YouTube
Este work é parte da pesquisa de doutorado, em andamento, intitulada “Empoderar é conhecer o seu poder”: estética e potência nas narrativas de mulheres com deficiência no YouTube. A investigação engloba os campos dos Estudos sobre Deficiência e das Humanidades Digitais, endossando as discussões sobre etnografia online e a compreensão da internet como nova possibilidade analítica. O objetivo mais amplo é compreender as dinâmicas envolvidas no “empoderamento” virtual, por mulheres com deficiência, no YouTube. Neste recorte, destacam-se as noções de corpo representadas verbal e visualmente. A metodologia da pesquisa envolve a análise etnográfica dos conteúdos disponíveis em dois canais, no YouTube, que focalizam um viés não-biomédico de narrativa da deficiência. O primeiro se chama “Vai uma mãozinha aí?”, produzido por Mariana Torquato, que nasceu com agenesia de membro. Em 2018, este canal alcançou a marca de 100.000 usuários inscritos, sendo “Tour pelo meu corpo” um dos vídeos com maior número de visualizações. O segundo é realizado pela transexual cadeirante Leandrinha Du Art, nascida com uma síndrome genética rara. Em 2017, ambos os canais conquistaram projeção midiática nacional e participaram de eventos de grande porte, além de programas televisivos e matérias de jornais e revistas. A internet e o YouTube, em especial, vêm se mostrando como ferramenta de comunicação e de visibilidade social por excelência. Hoje, o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de usuários do YouTube, atrás apenas dos Estados Unidos. Não é novidade que a popularização da internet, em meados da década de 1990, trouxe consigo outras formas dos indivíduos se relacionarem e experimentarem a própria condição. O fato é que tecnologias digitais promovem efeitos na vida social e econômica das pessoas. Para além de representar um espaço que facilita a comunicação, é um nicho mercadológico, que profissionaliza “influenciadores digitais” e monetiza a “intimidade pública”. Em comum, os canais abordados na pesquisa discutem gênero, corpo e sexualidade, sob a perspectiva do que denominam como “empoderamento” (categoria êmica). No YouTube, há uma variedade de canais sobre os mais diferentes assuntos. Chama a atenção o fato dos conteúdos estudados se desvincularem de perspectivas religiosas ou baseadas na comoção ou no argumento da “superação” (tragédia pessoal). Resultados parciais da pesquisa também indicam que, apesar de compartilharem o foco na aceitação do corpo deficiente, os canais “Vai uma mãozinha aí?” e “Leandrinha Du Art” se afastam quanto às dinâmicas de narrativas. Se, por um lado, a deficiência física é explorada de forma “irônica e bem-humorada” a partir do movimento "body positive”, por outro, é locus de militância partidária e política.