GT 057. Processos e dinâmicas no ciberespaço: divergências, dissidências, usos e contra-usos em relação à experiência de si
Apresentação Oral em GT
Márcia Mesquita
Notas de campo: a maquiagem como construção de um rosto
Este artigo pretende apresentar reflexões acerca de questões teóricas e metodológicas surgidas no work de campo realizado para meu doutoramento em Antropologia acerca do uso de maquiagem por pessoas que se dizem consumidoras e usuárias cativas desses produtos. Nele, trago discussões que serão temas de dois capítulos da tese em construção, sobre meu percurso no work de campo e sobre a centralidade do rosto e sua relação com as plataformas digitais, em especial o Facebook e Instagram.
Primeiramente, o artigo traz estratégias que adotei para acompanhar no campo tais atores em suas ações, cujas particularidades tanto do fenômeno da maquiagem como das agências dos meios digitais demandaram uma observação multi-situada. Para realizar a pesquisa, acompanhei tais consumidoras tanto em ambientes digitais, como dois grupos de Facebook. Nestes grupos, são compartilhadas informações sobre técnicas de maquiagem elaboradas e uma grande variedade de produtos são apresentados e adotados por estas usuárias. No entanto, o fato de relatos das interlocutoras falarem sobre a apresentação de si com a maquiagem não apenas nas redes, mas também “ao vivo”, foi necessário acompanhar este tipo de consumidora em ambientes off-line, como cursos de auto maquiagem e eventos dedicados ao tema.
Em seguida, apresento como questões relacionadas às ferramentas de plataformas digitais como Instagram estão contribuindo para o surgimento de padrões estéticos e na centralidade da exposição do rosto. A maquiagem se relaciona com este grupo como técnica manual para expressão e construção de rostos e identidades, em especial no que tange à identidade de gênero. Ao criarem estratégias de esconder e revelar utilizando os produtos da maquiagem, constroem seus rostos de acordo com padrões de beleza dominantes ou performando outros padrões em formas de se pintar desviantes, onde em alguns casos os efeitos produzidos por “filtros” do Instagram se tornam o padrão estético almejado, não apenas para fotos compartilhadas no online, mas na apresentação de si offline também.