Redes sociais da ABA:
GT 057. Processos e dinâmicas no ciberespaço: divergências, dissidências, usos e contra-usos em relação à experiência de si
Apresentação Oral em GT
Patrícia Lânes Araujo de Souza
Narrativas compartilhadas: o Facebook e a produção de militâncias, memória e esquecimento nos movimentos sociais populares
A presente comunicação analisa a relação entre redes sociais virtuais (em especial o Facebook) e a produção da memória coletiva por movimentos sociais. A análise parte de etnografia realizada entre 2012 e 2018 junto a ações locais do conjunto de favelas que compõe o Complexo do Alemão (zona norte, Rio de Janeiro) que têm na produção audiovisual e no uso da Internet modos prioritários de ação. No contexto pesquisado, a produção da memória coletiva compreende diversas estratégias (entre elas, a produção de videodocumentários, livros, fotografias, grafites e intervenções urbanas e a criação de um centro de documentação e memória). Tais estratégias vem sendo pensadas pelos atores locais como formas de visibilidade pública da favela, modos de narrar o lugar, sua história e suas “lutas” a partir do ponto de vista de quem lá vive, mas também como maneiras de garantir que certas versões da história do lugar sejam conhecidas e transmitidas (em detrimento de outras). Ainda que a produção da memória coletiva seja recorrente em movimentos sociais populares, com a inclusão da Internet e suas plataformas em seus repertórios, a maneira pela qual se dá tal produção vem se alterando. Tais transformações vinculam-se a características das plataformas utilizadas combinadas aos agenciamentos de diferentes atores sobre tais recursos. Trata-se, portanto, de pensar de que maneira tais combinações modificam a relação com passado e presente, bem como as formas de conceberem sua relação com o tempo e com o lugar. Nesse sentido, é importante pensar como se articulam “memória do presente” (DALMASO, 2015) criada pelo constante compartilhar de fatos cotidianos à “memória social” (HALBWACHS, 1997) do lugar, que ancora pertencimentos e identidades (POLLAK, 1989, 1992). De que forma recursos disponíveis no Facebook - como álbuns de fotografia, a lógica da linha do tempo (“timeline”), marcação de pessoas e, mais recentemente, a possibilidade de rememorar posts antigos - contribuem para criar outras modalidades de produção da memória coletiva? E, ainda, como se articulam “memórias autobiográficas” (WANG, BROCKMEIER, 2002; CARNEIRO, GERMANO, 2017) constituídas nas redes sociais virtuais e memória coletiva em contextos em que falar de si possui valores contrastantes (a centralidade do “eu” nas redes sociais virtuais versus o controle permanente para que o indivíduo não seja mais visível do que a coletividade e/ou, no caso em questão, o lugar, a favela)? Não se trata de pensar a Internet e as redes sociais simplesmente como arquivos ou depósitos de rastros do cotidiano, mas de refletir sobre as implicações de seus usos na produção da memória coletiva, focando a interseção entre “memória do presente”, “memória autobiográfica” e “memória mediada” (DIJCK, 2007).