Redes sociais da ABA:
GT 057. Processos e dinâmicas no ciberespaço: divergências, dissidências, usos e contra-usos em relação à experiência de si
Apresentação Oral em GT
Isabel Siqueira Travancas, Elisenda Ardêvol
Escrever cartas como ação política em tempos de internet: Brasil e Catalunha
O objetivo desta comunicação é apresentar um projeto de pesquisa em andamento sobre o gênero epistolar em tempos de internet. Seu objeto são as campanhas para escrever cartas para presos políticos no Brasil - cartas para Lula – e na Catalunha, Espanha, - cartas para Jordi Cuixart e Jordi Sánchez -. Apesar das diferenças entre os dois países e os motivos pelos quais estão presos, em ambos os casos foram criadas campanhas estimulando a escritura de cartas para a prisão como uma ação política. Essas cartas – milhares, tanto no Brasil como na Catalunha – são escritas por pessoas “comuns” que querem expressar sua solidariedade aos presos. Também tem circulado cartas públicas escritas por celebridades, políticos e intelectuais que são divulgadas pelos meios de comunicação e reproduzidas e retwiteadas milhares de vezes nas redes. Por um lado, a privação da liberdade destes presos supõe também uma diminuição de sua liberdade de expressão, já que suas formas de comunicação com o exterior estão submetidas a um controle estrito. Eles não tem acesso à internet e a única via de comunicação direta é a correspondencia, já que as visitas e as ligações telefónicas são limitadas. Este cenário reativou a escritura de cartas - quando se pensava que o gênero epistolar havia desaparecido ou tinha ficado obsoleto - e chamou a atenção para um grupo – os presos – que estão excluídos da comunicação digital. Por outro, a materialidade da carta tem um valor excepcional e sua força política é amplificada através dos meios digitais onde se compartilham as cartas enviadas, recebidas ou recusadas. Cartas íntimas e privadas circulam na internet assim como as cartas públicas e abertas e são uma resposta popular e massiva à situação destes políticos na prisão à espera de julgamento. Neste estudo examinaremos como se dá a combinação entre a digitalidade e a materialidade da correspondência e os seus efeitos na esfera política. Para isso partimos de um work de campo preliminar baseado nas mensagens nas redes sociais relacionadas com as cartas escritas, censuradas ou recebidas, assim como a participação em oficinas para escritura de cartas para os presos em Barcelona e entrevistas, tanto no Brasil quanto na Catalunha. Esta primeira aproximação ao campo - acompanhamento online, observação participante e entrevistas - nos possibilita, a partir da noção de materialidade digital (PINK, ARDÉVOL & LANZENI, 2016), um contato com este fenômeno de imbricação do gênero epistolar (FOUCAULT: 1992; GOMES: 2004; KLINGER: 2012 e DIAZ: 2016) com novas formas comunicativas digitais (HORST & MILLER, 2013) e maneiras de ação política na rede (POSTILL & PINK, 2012).